domingo, 20 de dezembro de 2015




As emoções, como  arte e costura humana, 

O homem, relaciona-se com o mundo, através de um processo dialético, envolvendo os aspectos físico, psicológico, intelectual e espiritual. Ele, modifica   e ao mesmo tempo é modificado por ele.  O campo emocional,  é, um fio, que permeia toda história de vida, e, se efetiva, como um fenômeno complexo, decorrência de uma alteração intensa do ânimo, podendo , tal sentimento,  ser agradável,  ou,  desagradável, consequência,  do processo de  comoção somática.  As emoções, exercem um papel significativo , no desenvolvimento humano, capaz,  de produzir , bem estar, ânimo,  motor, na superação dos   problemas, ou,  atuar, como , fomentadora de doenças psicossomáticas, quando,  em desequilíbrio. O desafio da psicanálise, é proceder estudos, ações,  capazes de trabalhar a flexibilidade nas atitudes,  frente aos paradigmas construídos, sobre os afetos, emoções e desejos, com ênfase na energia emocional, como fonte de vida, alegria, amor e sentido. E, essa energia, pertence a personificação da matéria, sujeita  a condição física e química, que, é traduzida,  como,  forma de emoção na vida das pessoas.
O homem, na sua incompletude,   traz consigo, a  necessidade de estar integrado, em harmonia , com o mundo que o cerca, apesar de sua diversidade , facetas e multiplicidades. Entretanto, são muitos os fatores que atuam na dinâmica humana, alterando o estado emocional  e psíquico, em sua formação. As primeiras impressões emocionais,  decorrentes das experiências familiares, como,  relação materna, paterna , e,   relação com os irmãos, são, fundamentais  , definitivas , e, estruturantes,  para uma vida inteira. E, dependendo da qualidade dessas relações, teremos uma vida  psíquica mais  ,ou ,  menos saudável . Nesse sentido,  Viorst, ( 1988, p. 20), afirma: 

“Temos que suportar perdas. Mas, se nossa mãe nos deixa quando somos muito novos, despreparados, assustados, desamparados, o preço desse abandono, o preço dessa perda, o preço dessa separação pode ser alto demais. Há,  um tempo certo para separarmos de nossa mãe. Porém, a não ser,  que estejamos preparados para a separação, a não ser que estejamos prontos para deixá-la,  e , ser deixados por ela, qualquer coisa é melhor do que a separação.”

Segundo  Viorst (1988) A mãe é um   laço forte, uma figura determinante,  na vida de uma   criança. Ela,  é o seu primeiro amor, a sua extensão, porque,   atua,  como espelho,  é através dela que o bebê, enxerga,  percebe—se  , amplia-se  pelo olhar ,é  aprovada , é, encorajada  à viver . Ela, engatinha, fica de pé, dá  os primeiros passos , vai avançando em sua liberdade, sentindo-se assegurada e protegida pela mãe, e,  pela qualidade do vivido,  sabe, que pode  contar com ela. Sua presença é reconhecida pelo tom de voz, calor, toque e cheiro. É,  uma comunicação poderosa, indispensável.  E, quanto mais segura e confiante, melhor é o seu desempenho ,  por toda uma vida. No entanto, quanto menor  é a criança, maior é a  falta sentida de presença da mãe,    independente,  do cuidado da pessoa   que  a  substitua,  porque,  uma vez,  que ,  o vínculo esteja formado, a ausência  é sentida como perda,  na falta de  presença. Somente,  aos três anos,  e, de forma gradual,   é , que a criança adquire a noção , de,  que,  a mãe vai voltar para ela. E,   Muitas vezes, a presença da mãe, não  é muito saudável, pelo  perfil  de mãe, que a mesma apresenta, como rigidez,  autoritarismo, excesso de flexibilidade, mas, não importa o tipo de mãe, se abraça ou se machuca, uma criança, ao separar-se , perde,  porque,  a presença  em si, emite segurança, vínculo , e,  a sensação de bem estar , estará  assegurada.
Contudo, o crescimento humano prescinde afastamento, e, quando a mãe ausenta-se, por inúmeras razões, desde trabalho fora, compromissos, dar conta de sua vida,  o afastamento,  precisa ser trabalhado, do contrário, causará algum dano, porque, a criança, apresentará dificuldades para sobreviver, podendo seus efeitos, tornar-se dolorosos e marcantes. Uma criança com seis meses, já , concebe a mãe ausente, suscitando  na ausência,  dor e  sofrimento. E, quando a criança , não é atendida nas suas necessidades  primárias, emergenciais, ao lembrar-se da mãe, sente-se abandonada, rejeitada, desamparada . Então, essa emoção, marcada pela  falta , dor e sofrimento, são registradas, com as repetições, como falta de provisão, falta de suprimento,  que, poderão  evoluir , ou desdobrar-se, ao longo dos anos, por uma vida inteira, repercutindo,  no processo global humano, e, que poderá   traduzir-se , como insegurança, insatisfação, falta de prazer, de alegria, problema de auto-estima, ou ainda, transformado-se,   em neuroses, apresentadas  como doenças.

Segundo Viorst ( 1988) estudos, originários de Freud, evidenciam , que todos nós, sofremos de influência e somos alimentados por dois instintos básicos, o agressivo e o sexual. E, o sexo e a  agressão, estão,  na maioria das vezes,  implicados entre si.  Por exemplo, um ato violento, tem relação com a sexualidade de forma inconsciente. As forças que habitam os humanos, como amor e ódio, sexualidade e agressividade, vida e morte, estão presentes no cotidiano, tanto nos conflitos mais banais, quanto,  nos mais mórbidos , ou,  sublimes da humanidade. Os pares de opostos estarão , misturados, amalgamados em tudo que o humano realiza, sente  ou pensa. Ou seja, onde existe amor, existe ódio, porque,  toda sexualidade, é composta por agressividade, em proporções maiores ou menores, sendo, as polaridades, o ponto alto  dos conflitos psíquicos. Na psicanálise, são,  também entendidos pelos conceitos de pulsão de vida (Eros) e pulsão de morte (Thânatos). O organismo humano, vive  permanentemente, entre,  os dois movimentos  Um a favor da vida , e,  outro , em favor da destruição da mesma. Então, o primeiro, “Eros” utiliza-se do potencial da inteligência para proteger a vida, e “Thânatos”,  utiliza-se  do traço sádico,  para destruição da mesma.  Por isso, os conceitos de Amor e Ódio, são duas faces de uma mesma moeda, independentemente de nossa capacidade de compreensão ou de aceitação. A natureza, de forma prodigiosa, usa um par de antídotos, para manter o amor sempre vigilante.
Segundo Pereira, (2012)  a biofilia, é , apresentada como fonte de vida natural, como pulsão de vida   e,  a necrofilia, como,  pulsão de morte, resultado do  processo somático. As duas categorias,  contemplam um potencial de energia agressiva e  que,  poderão,  deslocar-se para preservação ou destruição da vida. Os desejos sádicos, agressivos e cruéis,  são oriundos de emoções relacionadas ao prazer, gratificação e satisfação. Produzem efeitos de euforia e excitação. Quando, conseguimos compreender, ou, nos situar frente a questões conflituosas, desconcertantes, etc,  , podemos seguir , na direção de superação do padrão,  pela revisão da postura , ou, ainda, pela negação ou omissão, repetir comportamentos e atitudes, como expressão de dor e  sofrimento. Contudo, quando, esse ecletismo de emoções, passam desapercebidos, inconscientes, vive-se,  muitas vezes,  uma espécie de automatismo , repetição  de atitudes, e, com isso,  a insatisfação, a  tristeza, o  sofrimento, a apatia etc.  Muitas pessoas, fogem das emoções, de situações conflitantes, porque, não aprenderam a lidar com elas. No entanto, é um exercício, que iniciado, aos poucos,  perde-se gradualmente o medo, e as situações novas, passam a ser enfrentadas, desde,  que trabalhadas.
A agressão, é uma reação não inata. Ela surge, no mundo das defesas. O homem, desde muito cedo , no início dos tempos , aprendeu a defender-se, porque,  do contrário,  seria engolido pelas adversidades, como, inimigos, intempéries, barbáries. Os fenômenos responsáveis pela insegurança, como, medo, agressão, que,  são mecanismos desenvolvidos ao longo da vida, como, experiências agressivas,  do meio. O ódio humano, na sua forma inata e,  ou,  ambiental, está vivo, misturando-se com o amor, o tempo inteiro, permeado pelas emoções, nas relações e interações.E, para enfatizar, Viorst, afirma:
” O  Psicanalista Rollo May, argumenta que ambos são partes do que ele chama de daimonic, que inclui sexo e agressão, o criativo e o destrutivo, o nobre e o vil. O impulso de todo ser para afirmar-se, perpetuar-se , crescer, é ,  proveniente de uma força além do bem e do mal. Uma força que se não canalizada, pode nos levar a matar cegamente, uma força , que,  repudiada pode nos deixar apáticos e semimortos, uma força que, quando integrada, a nosso eu, pode vitalizar todas as nossas experiências. Assim, o amor não é ameaçado pelo daimonic, mas pela nossa negação dele, por nossa incapacidade de aceitá-lo com a agressividade e tudo o mais, como algo nosso. E, May cita o poeta Rilke, que diz: Se meus  demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também. E May diz:  Por isso, “devemos abraçar os dois”.

A ideia de perfeição humana,   a imagem,  e , semelhança de Deus, é algo que nos  afeta , nos impulsiona , e,  nos conflitua. No entanto,  o homem, é um ser imperfeito e inacabado, e, suas ações transitam, atuam entre,   essas,  duas faces contraditórias ,  Amor e Ódio. Ora,  somos expressão de amor, ora, somos  expressão de ódio.  Ora anjos,  e,   ora demônios. Ou seja, fruto de um somatório  de experiências,  que,  mesmo,  relegadas ao inconsciente,  interferem, influenciam   e determinam,  as nossas ações, permeadas por  emoções, representante  do bem e do  mal, movidas por imagens, símbolos, sons , leituras, etc.  As emoções de raiva, ódio e agressão, também , que,  surgem,  nas  sensações de confrontos  , conflitos , que, nos remete a lugares que  visitamos, quando  vinculamos essa emoção, independente,  de compreensão ou de  uma interpretação racional. As emoções, em algumas situações, exercem,  forte poder de atuação, sobre,   a vítima no sentido da sedução, do prazer e vantagens , calcadas no mais profundo desejo, permeada por sentimentos contraditórios como: medo, insegurança, raiva e ao mesmo tempo,  satisfação. Já, o medo , a angústia e a ansiedade, embaçam a visão, na realização de uma  escolha, em âmbito geral, tanto no âmbito profissional,  ou de ordem  afetiva.
Cada emoção, tem  um filtro, uma lente, que,  influencia nas verdades,  permeada  por crenças, costumes, culturas , de uma  sociedade. Contudo,  o ser humano,  dispõe de condições, requisitos, para,   alteração  e modificação   dessa ordem, porque, no processo de existência, do vir à ser, os sujeitos, são atores, artífices, escultores,  pintores de sua imagem, escolhedores de temáticas, tecedores de fios, escolhedores de tonalidades e cores, permeadas por ações, e, pelo inconsciente. O artista, ao realizar sua  obra, ao compô-la, recompõe-se, ressurge-se,  em cada nova composição.

Segundo Pereira, (2012) a Inteligência orgásmica, é portadora de uma comunicação simbólica e que escapa a simples observação,  do organismo fisiológico, necessitando , habilidades,  para um  diagnóstico preciso, sobre,  a interpretação dessas imagens, porque,  elas,   se dispõe, na direção da consciência, pelo caminho da simbologia e linguagem não verbal. Todavia, a inteligência organísmica, procura satisfação, nas necessidades básicas, mas aponta, sobretudo, na perspectiva, de,  realizar seus mais nobres desejos,  de alegria e felicidade. E, esta emoção vital, necessita de uma dose de iniciativa e coragem, para o desbravamento interior, na busca de sentido,  e , de existência.  Já, a indisposição da mesma, poderá ,  desencadear uma enorme carência,  como, ausência de si, e , em níveis mais acentuados, transformar-se-á,  em doenças físicas, ou psicossomáticas, como, síndrome do pânico, depressão, TOC e tantas outras. E, não é muito raro, nos depararmos,  com , formulações de realidades,  distorcidas, equivocadas e irreais, e, que, trazem como consequência, alguns danos emocionais. Contudo, entende-se, que, quanto maior for  a capacidade que temos em compreender, nos situar de  drenar e  canalizar essas emoções, melhor , realizaremos nossas escolhas e mais gratificados ficaremos. Consequentemente, mais colorida ficará  a nossa  vida, porque,  a energia psíquica , que,   decorre ,  é, transformada em pulsão, responsável,  pela fonte de vida e bem estar.

Qualquer pessoa,  desprovida das emoções, torna-se, amorfo, indiferente, calculista e racionalista, que , resulta na formação de  um caráter mais endurecido, ou , até mesmo, a  neurótico ,como  conseqüência,  da rigidez do pensamento. Contudo,  quanto maior for   a flexibilidade,  na formulação  do pensamento   nas atitudes,  melhor será a percepção do olhar, porque,  o sistema psíquico  vai ampliando-se, tornando-se mais, dinâmico,  evolutivo , saudável, traduzido-se,  como, segurança,  conforto e alegria.

O inconsciente, como uma espécie de arquivo, tem registrado , impressões, sensações, que,  ficam acomodadas, inoperantes , por algum tempo, ou, até por uma vida inteira . Mas, basta  a conexão com   uma emoção, para,  acender o poder de atuação e desencadear os insights, como,  uma espécie de efeito cascata.  Já, as informações de  memórias  acessadas,  poderão,  instituir realidades  e   efeitos,  como:  desarmonia, infelicidade, tristeza,  conflitos, etc,  mas,  quando estamos dispostos à revisitações, poderemos revisitar esses conceitos e emoções, ressignificando-os, ampliando o nosso olhar, jogando luz onde existe sombra, na direção da consciência.Para uma emoção, não existe tempo, presente, passado e futuro. Suas ações e reações, não obedecem a  cronologia do tempo e espaço, sob a perspectiva ,   que,   adquirimos em nossa cultura. Qualquer tempo,  é , tempo de redefinições, reformulações , costuras. E a psicanálise humanista,  em seu ofício,  prima,  pela formulação  e desenvolvimento do homem de forma abrangente, atuando sobre a dimensão psíquica, como, geradora e fomentadora de energia vital, utilizando-se,  da compreensão da linguagem simbólica e dos desejos humanos, como objeto de pesquisa. 

 As pessoas em geral,  pelo cuidado com a exposição da imagem, resultante do processo do  narcisismo, evitam,  as vezes,  os riscos necessários numa decisão, reproduzindo , negando e reprimindo emoções , impedindo novas possibilidades,  de realização e  de existência, por acomodação, preconceitos,ou, firmar-se , em  paradigmas ultrapassados etc. Presenciamos, diariamente, nos canais de Tvs, que, desviam a nossa atenção, com informações,  de,  crueldades, violência, incluindo filmes de horror, medos,  atos de atrocidade,  em nome da audiência e  do espetáculo, idéias,  que repetidas, incidem,   sobre nossa  base racional humana e fomenta a pulsão destrutiva, que,  tem desfecho,  à barbárie e   à violência. 

Percebe-se, que, a grosso modo, quem dita os padrões de ideal, de uma sociedade, são as mídias sociais e o mercado de consumo. Um aspecto relevante, no cenário, é, que as pessoas são reconhecidas, e, valorizadas pelo grau de consumo, pela aparência. Se consome, tem reconhecimento , pelo que adquirem, então, o mercado valoriza e sua “ auto estima aumenta”.  Não, que,  seja “pecado”   consumir, gastar,  naquilo que lhe causa desejo. Mas, um estremo é a inversão desses  valores. Ou seja, as pessoas, buscam o reconhecimento e auto- estima, pela ótica exacerbada  do consumo.  É, o famoso vale quanto pesa. E, os meios de comunicação de massa, são,  os grandes responsáveis por isso. E, a Tv brasileira, bem como,  as mídias sociais, invadem  os lares e as casas e substituem  os espaços de comunicação e diálogo. As pessoas, por conta disso, conversam pouco,  leem pouco, refletem pouco sobre suas vidas , suas relações,  detendo-se apenas em responder demandas interiores ,  nas relações e situações, atuando, como,  apagadores de incêndio.
O processo de realização humana, é, abrangente, variável e único. As experiências  realizadoras e de  desenvolvimento humano,   dependem  de  prontidão e maturidade  sobre as escolhas . E, o que acrescenta , amplia e gratifica,  é,  o que dá  maior sentido à  vida. Existe,  um universo extenso e variado , que,  auxilia na construção da arte humana. Como por exemplo, a arte em geral, o esporte, a dança, a música, a pintura, a literatura, a poesia e a escrita, entre outros.  São lugares, horizontes, lentes, que permitem acessar,   novos  pontos de vista, formas de organização, culturas, que,  fazem pensar sobre a vida, no sentido da reformulação, como,  movimento do vir à ser.  Uma vida emocional saudável, requer buscas, encontro consigo mesmo, como ampliação de  perspectivas, de consciência e transformação.

E, o papel da psicanálise, nada mais é, do que propor uma reflexão crítica, sobre a realidade social, com a finalidade,  de,  reafirmar a necessidade,  do  desenvolvimento de pessoas autônomas, com liberdade de fazer escolhas, decidir suas vidas , na orientação,  do desenrolo da existência . E, o psicanalista, com a função de observador, inquisidor,  provocador, questionador, em sua tarefa, tem a incumbência de   propiciar  situações ponte,  aos analisando,  fomentando situações de religamentos,  necessários   nessa produção,  promovendo suporte, amorosidade, apoio, nos  desdobramentos do processo . Este profissional, quando,  começa a investigar e aproximar-se da atuação de uma emoção, percebe, que,  ao pinçar  aquela emoção importante,  que,  acionada  a primeira, na sequência , desencadearão,  muitas outras , ligadas a mesma experiência.  Seu papel , é,  então, o  de, condutor, orientador  do processo de  Redesenha mento  humano, que, paira,  sobre os  seus cuidados,  com base no link das emoções.


BIBLIOGRAFIA 

1. PEREIRA, Salésio Plácido. A complexidade do Inconciente na Psicanálise Humanista.1ª.Ed. M.G, ITPOH, 2008.



2,PEREIRA, Salésio Plácido. Conheça suas Emoções.1ª.ITPOH,  Santa Maria,2012

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3.VIORSIT, Judith; Perdas Necessária. 6ª. Ed. São Paulo: Cia Melhoramentos, 1988.





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