As emoções, como arte e costura humana,
O homem, relaciona-se com o mundo, através de um processo
dialético, envolvendo os aspectos físico, psicológico, intelectual e
espiritual. Ele, modifica e ao mesmo
tempo é modificado por ele. O campo
emocional, é, um fio, que permeia toda
história de vida, e, se efetiva, como um fenômeno complexo, decorrência de uma
alteração intensa do ânimo, podendo , tal sentimento, ser agradável, ou,
desagradável, consequência, do
processo de comoção somática. As emoções, exercem um papel significativo ,
no desenvolvimento humano, capaz, de
produzir , bem estar, ânimo, motor, na
superação dos problemas, ou, atuar, como , fomentadora de doenças
psicossomáticas, quando, em
desequilíbrio. O desafio da psicanálise, é proceder estudos, ações, capazes de trabalhar a flexibilidade nas
atitudes, frente aos paradigmas
construídos, sobre os afetos, emoções e desejos, com ênfase na energia
emocional, como fonte de vida, alegria, amor e sentido. E, essa energia,
pertence a personificação da matéria, sujeita
a condição física e química, que, é traduzida, como,
forma de emoção na vida das pessoas.
O homem, na sua incompletude, traz consigo, a necessidade de estar integrado, em harmonia ,
com o mundo que o cerca, apesar de sua diversidade , facetas e multiplicidades.
Entretanto, são muitos os fatores que atuam na dinâmica humana, alterando o
estado emocional e psíquico, em sua formação.
As primeiras impressões emocionais,
decorrentes das experiências familiares, como, relação materna, paterna , e, relação com os irmãos, são, fundamentais , definitivas , e, estruturantes, para uma vida inteira. E, dependendo da
qualidade dessas relações, teremos uma vida
psíquica mais ,ou , menos saudável . Nesse sentido, Viorst, ( 1988, p. 20), afirma:
“Temos que suportar perdas. Mas,
se nossa mãe nos deixa quando somos muito novos, despreparados, assustados,
desamparados, o preço desse abandono, o preço dessa perda, o preço dessa
separação pode ser alto demais. Há, um
tempo certo para separarmos de nossa mãe. Porém, a não ser, que estejamos preparados para a separação, a
não ser que estejamos prontos para deixá-la,
e , ser deixados por ela, qualquer coisa é melhor do que a separação.”
Segundo Viorst (1988)
A mãe é um laço forte, uma figura
determinante, na vida de uma criança. Ela, é o seu primeiro amor, a sua extensão,
porque, atua, como espelho,
é através dela que o bebê, enxerga,
percebe—se , amplia-se pelo olhar ,é
aprovada , é, encorajada à viver
. Ela, engatinha, fica de pé, dá os
primeiros passos , vai avançando em sua liberdade, sentindo-se assegurada e
protegida pela mãe, e, pela qualidade do
vivido, sabe, que pode contar com ela. Sua presença é reconhecida
pelo tom de voz, calor, toque e cheiro. É,
uma comunicação poderosa, indispensável.
E, quanto mais segura e confiante, melhor é o seu desempenho , por toda uma vida. No entanto, quanto
menor é a criança, maior é a falta sentida de presença da mãe, independente, do cuidado da pessoa que
a substitua, porque,
uma vez, que , o vínculo esteja formado, a ausência é sentida como perda, na falta de
presença. Somente, aos três
anos, e, de forma gradual, é , que a criança adquire a noção , de, que, a
mãe vai voltar para ela. E, Muitas
vezes, a presença da mãe, não é muito
saudável, pelo perfil de mãe, que a mesma apresenta, como
rigidez, autoritarismo, excesso de
flexibilidade, mas, não importa o tipo de mãe, se abraça ou se machuca, uma
criança, ao separar-se , perde,
porque, a presença em si, emite segurança, vínculo , e, a sensação de bem estar , estará assegurada.
Contudo, o crescimento humano prescinde afastamento, e,
quando a mãe ausenta-se, por inúmeras razões, desde trabalho fora,
compromissos, dar conta de sua vida, o afastamento, precisa ser trabalhado, do contrário, causará
algum dano, porque, a criança, apresentará dificuldades para sobreviver,
podendo seus efeitos, tornar-se dolorosos e marcantes. Uma criança com seis
meses, já , concebe a mãe ausente, suscitando
na ausência, dor e sofrimento. E, quando a criança , não é
atendida nas suas necessidades
primárias, emergenciais, ao lembrar-se da mãe, sente-se abandonada,
rejeitada, desamparada . Então, essa emoção, marcada pela falta , dor e sofrimento, são registradas,
com as repetições, como falta de provisão, falta de suprimento, que, poderão
evoluir , ou desdobrar-se, ao longo dos anos, por uma vida inteira,
repercutindo, no processo global humano,
e, que poderá traduzir-se , como
insegurança, insatisfação, falta de prazer, de alegria, problema de
auto-estima, ou ainda, transformado-se,
em neuroses, apresentadas como
doenças.
Segundo Viorst ( 1988) estudos, originários de Freud,
evidenciam , que todos nós, sofremos de influência e somos alimentados por dois
instintos básicos, o agressivo e o sexual. E, o sexo e a agressão, estão, na maioria das vezes, implicados entre si. Por exemplo, um ato violento, tem relação com
a sexualidade de forma inconsciente. As forças que habitam os humanos, como
amor e ódio, sexualidade e agressividade, vida e morte, estão presentes no
cotidiano, tanto nos conflitos mais banais, quanto, nos mais mórbidos , ou, sublimes da humanidade. Os pares de opostos
estarão , misturados, amalgamados em tudo que o humano realiza, sente ou pensa. Ou seja, onde existe amor, existe
ódio, porque, toda sexualidade, é
composta por agressividade, em proporções maiores ou menores, sendo, as
polaridades, o ponto alto dos conflitos psíquicos.
Na psicanálise, são, também entendidos
pelos conceitos de pulsão de vida (Eros) e pulsão de morte (Thânatos). O
organismo humano, vive permanentemente,
entre, os dois movimentos Um a favor da vida , e, outro , em favor da destruição da mesma.
Então, o primeiro, “Eros” utiliza-se do potencial da inteligência para proteger
a vida, e “Thânatos”, utiliza-se do traço sádico, para destruição da mesma. Por isso, os conceitos de Amor e Ódio, são
duas faces de uma mesma moeda, independentemente de nossa capacidade de
compreensão ou de aceitação. A natureza, de forma prodigiosa, usa um par de
antídotos, para manter o amor sempre vigilante.
Segundo Pereira, (2012)
a biofilia, é , apresentada como fonte de vida natural, como pulsão de
vida e,
a necrofilia, como, pulsão de
morte, resultado do processo somático.
As duas categorias, contemplam um
potencial de energia agressiva e
que, poderão, deslocar-se para preservação ou destruição da
vida. Os desejos sádicos, agressivos e cruéis,
são oriundos de emoções relacionadas ao prazer, gratificação e
satisfação. Produzem efeitos de euforia e excitação. Quando, conseguimos
compreender, ou, nos situar frente a questões conflituosas, desconcertantes,
etc, , podemos seguir , na direção de
superação do padrão, pela revisão da
postura , ou, ainda, pela negação ou omissão, repetir comportamentos e
atitudes, como expressão de dor e
sofrimento. Contudo, quando, esse ecletismo de emoções, passam
desapercebidos, inconscientes, vive-se,
muitas vezes, uma espécie de
automatismo , repetição de atitudes, e,
com isso, a insatisfação, a tristeza, o
sofrimento, a apatia etc. Muitas
pessoas, fogem das emoções, de situações conflitantes, porque, não aprenderam a
lidar com elas. No entanto, é um exercício, que iniciado, aos poucos, perde-se gradualmente o medo, e as situações
novas, passam a ser enfrentadas, desde,
que trabalhadas.
A agressão, é uma reação não inata. Ela surge, no mundo das
defesas. O homem, desde muito cedo , no início dos tempos , aprendeu a
defender-se, porque, do contrário, seria engolido pelas adversidades, como,
inimigos, intempéries, barbáries. Os fenômenos responsáveis pela insegurança,
como, medo, agressão, que, são
mecanismos desenvolvidos ao longo da vida, como, experiências agressivas, do meio. O ódio humano, na sua forma inata
e, ou,
ambiental, está vivo, misturando-se com o amor, o tempo inteiro,
permeado pelas emoções, nas relações e interações.E, para enfatizar, Viorst,
afirma:
” O Psicanalista Rollo May, argumenta que ambos
são partes do que ele chama de daimonic, que inclui sexo e agressão, o criativo
e o destrutivo, o nobre e o vil. O impulso de todo ser para afirmar-se,
perpetuar-se , crescer, é , proveniente
de uma força além do bem e do mal. Uma força que se não canalizada, pode nos
levar a matar cegamente, uma força , que,
repudiada pode nos deixar apáticos e semimortos, uma força que, quando
integrada, a nosso eu, pode vitalizar todas as nossas experiências. Assim, o
amor não é ameaçado pelo daimonic, mas pela nossa negação dele, por nossa
incapacidade de aceitá-lo com a agressividade e tudo o mais, como algo nosso.
E, May cita o poeta Rilke, que diz: Se meus
demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também. E May
diz: Por isso, “devemos abraçar os
dois”.
A ideia de perfeição humana, a imagem,
e , semelhança de Deus, é algo que nos
afeta , nos impulsiona , e, nos
conflitua. No entanto, o homem, é um ser
imperfeito e inacabado, e, suas ações transitam, atuam entre, essas,
duas faces contraditórias , Amor
e Ódio. Ora, somos expressão de amor,
ora, somos expressão de ódio. Ora anjos,
e, ora demônios. Ou seja, fruto
de um somatório de experiências, que,
mesmo, relegadas ao
inconsciente, interferem,
influenciam e determinam, as nossas ações, permeadas por emoções, representante do bem e do
mal, movidas por imagens, símbolos, sons , leituras, etc. As emoções de raiva, ódio e agressão, também ,
que, surgem, nas
sensações de confrontos , conflitos
, que, nos remete a lugares que visitamos,
quando vinculamos essa emoção,
independente, de compreensão ou de uma interpretação racional. As emoções, em
algumas situações, exercem, forte poder
de atuação, sobre, a vítima no sentido
da sedução, do prazer e vantagens , calcadas no mais profundo desejo, permeada
por sentimentos contraditórios como: medo, insegurança, raiva e ao mesmo
tempo, satisfação. Já, o medo , a
angústia e a ansiedade, embaçam a visão, na realização de uma escolha, em âmbito geral, tanto no âmbito profissional,
ou de ordem afetiva.
Cada emoção, tem um
filtro, uma lente, que, influencia nas
verdades, permeada por crenças, costumes, culturas , de uma sociedade. Contudo, o ser humano,
dispõe de condições, requisitos, para,
alteração e modificação dessa ordem, porque, no processo de
existência, do vir à ser, os sujeitos, são atores, artífices, escultores, pintores de sua imagem, escolhedores de
temáticas, tecedores de fios, escolhedores de tonalidades e cores, permeadas por
ações, e, pelo inconsciente. O artista, ao realizar sua obra, ao compô-la, recompõe-se,
ressurge-se, em cada nova composição.
Segundo Pereira, (2012) a Inteligência orgásmica, é portadora
de uma comunicação simbólica e que escapa a simples observação, do organismo fisiológico, necessitando ,
habilidades, para um diagnóstico preciso, sobre, a interpretação dessas imagens, porque, elas,
se dispõe, na direção da consciência, pelo caminho da simbologia e
linguagem não verbal. Todavia, a inteligência organísmica, procura satisfação,
nas necessidades básicas, mas aponta, sobretudo, na perspectiva, de, realizar seus mais nobres desejos, de alegria e felicidade. E, esta emoção vital,
necessita de uma dose de iniciativa e coragem, para o desbravamento interior,
na busca de sentido, e , de
existência. Já, a indisposição da mesma,
poderá , desencadear uma enorme
carência, como, ausência de si, e , em
níveis mais acentuados, transformar-se-á,
em doenças físicas, ou psicossomáticas, como, síndrome do pânico,
depressão, TOC e tantas outras. E, não é muito raro, nos depararmos, com , formulações de realidades, distorcidas, equivocadas e irreais, e, que,
trazem como consequência, alguns danos emocionais. Contudo, entende-se, que,
quanto maior for a capacidade que temos
em compreender, nos situar de drenar e canalizar essas emoções, melhor , realizaremos
nossas escolhas e mais gratificados ficaremos. Consequentemente, mais colorida
ficará a nossa vida, porque,
a energia psíquica , que, decorre
, é, transformada em pulsão, responsável, pela fonte de vida e bem estar.
Qualquer pessoa,
desprovida das emoções, torna-se, amorfo, indiferente, calculista e
racionalista, que , resulta na formação de
um caráter mais endurecido, ou , até mesmo, a neurótico ,como conseqüência,
da rigidez do pensamento. Contudo,
quanto maior for a
flexibilidade, na formulação do pensamento nas atitudes, melhor será a percepção do olhar,
porque, o sistema psíquico vai ampliando-se, tornando-se mais, dinâmico, evolutivo , saudável, traduzido-se, como, segurança, conforto e alegria.
O inconsciente, como uma espécie de arquivo, tem registrado
, impressões, sensações, que, ficam
acomodadas, inoperantes , por algum tempo, ou, até por uma vida inteira . Mas,
basta a conexão com uma emoção, para, acender o poder de atuação e desencadear os
insights, como, uma espécie de efeito
cascata. Já, as informações de memórias
acessadas, poderão, instituir realidades e
efeitos, como: desarmonia, infelicidade, tristeza, conflitos, etc, mas, quando
estamos dispostos à revisitações, poderemos revisitar esses conceitos e
emoções, ressignificando-os, ampliando o nosso olhar, jogando luz onde existe
sombra, na direção da consciência.Para uma emoção, não existe tempo, presente,
passado e futuro. Suas ações e reações, não obedecem a cronologia do tempo e espaço, sob a
perspectiva , que, adquirimos em nossa cultura. Qualquer
tempo, é , tempo de redefinições,
reformulações , costuras. E a psicanálise humanista, em seu ofício, prima, pela formulação e desenvolvimento do homem de forma
abrangente, atuando sobre a dimensão psíquica, como, geradora e fomentadora de
energia vital, utilizando-se, da
compreensão da linguagem simbólica e dos desejos humanos, como objeto de
pesquisa.
As pessoas em
geral, pelo cuidado com a exposição da
imagem, resultante do processo do
narcisismo, evitam, as
vezes, os riscos necessários numa
decisão, reproduzindo , negando e reprimindo emoções , impedindo novas
possibilidades, de realização e de existência, por acomodação,
preconceitos,ou, firmar-se , em
paradigmas ultrapassados etc. Presenciamos, diariamente, nos canais de
Tvs, que, desviam a nossa atenção, com informações, de,
crueldades, violência, incluindo filmes de horror, medos, atos de atrocidade, em nome da audiência e do espetáculo, idéias, que repetidas, incidem, sobre nossa
base racional humana e fomenta a pulsão destrutiva, que, tem desfecho,
à barbárie e à violência.
Percebe-se, que, a grosso modo, quem dita os padrões de
ideal, de uma sociedade, são as mídias sociais e o mercado de consumo. Um
aspecto relevante, no cenário, é, que as pessoas são reconhecidas, e,
valorizadas pelo grau de consumo, pela aparência. Se consome, tem
reconhecimento , pelo que adquirem, então, o mercado valoriza e sua “ auto
estima aumenta”. Não, que, seja “pecado” consumir, gastar, naquilo que lhe causa desejo. Mas, um estremo
é a inversão desses valores. Ou seja, as
pessoas, buscam o reconhecimento e auto- estima, pela ótica exacerbada do consumo.
É, o famoso vale quanto pesa. E, os meios de comunicação de massa,
são, os grandes responsáveis por isso.
E, a Tv brasileira, bem como, as mídias
sociais, invadem os lares e as casas e
substituem os espaços de comunicação e
diálogo. As pessoas, por conta disso, conversam pouco, leem pouco, refletem pouco sobre suas vidas ,
suas relações, detendo-se apenas em
responder demandas interiores , nas
relações e situações, atuando, como,
apagadores de incêndio.
O processo de realização humana, é, abrangente, variável e
único. As experiências realizadoras e
de desenvolvimento humano, dependem
de prontidão e maturidade sobre as escolhas . E, o que acrescenta ,
amplia e gratifica, é, o que dá
maior sentido à vida.
Existe, um universo extenso e variado ,
que, auxilia na construção da arte
humana. Como por exemplo, a arte em geral, o esporte, a dança, a música, a
pintura, a literatura, a poesia e a escrita, entre outros. São lugares, horizontes, lentes, que permitem
acessar, novos pontos de vista, formas de organização,
culturas, que, fazem pensar sobre a
vida, no sentido da reformulação, como,
movimento do vir à ser. Uma vida
emocional saudável, requer buscas, encontro consigo mesmo, como ampliação
de perspectivas, de consciência e
transformação.
E, o papel da psicanálise, nada mais é, do que propor uma
reflexão crítica, sobre a realidade social, com a finalidade, de,
reafirmar a necessidade, do desenvolvimento de pessoas autônomas, com
liberdade de fazer escolhas, decidir suas vidas , na orientação, do desenrolo da existência . E, o
psicanalista, com a função de observador, inquisidor, provocador, questionador, em sua tarefa, tem a
incumbência de propiciar situações ponte, aos analisando, fomentando situações de religamentos, necessários
nessa produção, promovendo
suporte, amorosidade, apoio, nos desdobramentos
do processo . Este profissional, quando,
começa a investigar e aproximar-se da atuação de uma emoção, percebe,
que, ao pinçar aquela emoção importante, que,
acionada a primeira, na sequência
, desencadearão, muitas outras , ligadas
a mesma experiência. Seu papel , é, então, o
de, condutor, orientador do
processo de Redesenha mento humano, que, paira, sobre os
seus cuidados, com base no link
das emoções.
BIBLIOGRAFIA
1. PEREIRA, Salésio Plácido. A complexidade do Inconciente na
Psicanálise Humanista.1ª.Ed. M.G, ITPOH, 2008.
2,PEREIRA, Salésio Plácido. Conheça suas Emoções.1ª.ITPOH, Santa Maria,2012
.
3.VIORSIT, Judith; Perdas Necessária. 6ª. Ed. São Paulo: Cia
Melhoramentos, 1988.
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