quinta-feira, 4 de junho de 2015

A retomada,

Betina volta para casa, mas seu estado emocional, permanece adulterado. Parte dela,  continua no bosque. Sua lente, joga flashs  e  imagens, as vezes confusas e desordenadas. Mas a vida, chama- a de volta.

Betina, vai até o fogão. Pega alguns pedaços de lenha. Ajeita-os delicadamente. Joga um pouco de querosene sobre as palhas de milho. Risca um palito de fósforo. Depois outro. A chama inicia-se, com pouca força. Betina, conhece a arte do fogo. Cuidado e paciência.  Mais um palito. Querosene. Reorganiza e ajeita o espaço, na tentativa de manter e assegurar a chama. É preciso queimar. Arder.
O fogo está forte agora. O fogão é a própria lareira ,  esquenta a casa inteira.  Betina,  coloca água para ferver, precisa de um chimarrão. Está muito frio. E, o sol, começa a dar os primeiros sinais. Dá uma espiadela lá fora. Vê,  o movimento da vida.

Enquanto,  prepara o Chimarrão, pensa na sua lida. Tem alguns desafios pela frente. Está num momento novo. Precisa  mapear,  algumas , questões de ordem. Como o fogo, a travessia necessita de atenção e uso de todos os sentidos. Já a intuição, o pressentimento  e a atenção nos detalhes, é  importante   nos desdobramentos   contribuindo de forma efetiva  na expansão do olhar. A  humildade é também relevante no processo de  revisitação e aceitação, para a adequação aos novos ciclos, responsáveis pelo potencial da criação, recriação e se efetiva no vir à ser.

Betina, entende, que o processo, de reinvenção, passa pela ocupação de si.  A ocupação, reflete o ato de apropriar-se, tomar posse,  de algo, que, ainda  não lhe pertence. Por exemplo. Os corpos, de maneira geral, expressam, alguma  forma de estranheza. É uma sensação de desabitação,  desocupação, desintegração, vazio. Espaço , que precisa ser trabalhado  pelo próprio homem, para não desviar o foco de si  , e , buscar prazeres, compensações  em outros lugares.

O homem, em decorrência do meio social e econômico, ou seja, do tipo de vida que escolheu,  resultante da modernidade, muitas vezes comporta-se de forma dual, dicotômica, conflituosa.  Ou seja, pensa de um jeito e responde de outro, diferentemente daquilo que pensou. As vezes, com mais, outras vezes com menos clareza. Em grande parte,  essas ações, são mecânicas e impensadas.  A origem, tem por base atender princípios e normas, que primam,  não,   pela formação consciente do ser humano, mas, atendendo interesses do modelo econômico de produção vigente, no caso, com ótica no consumo.

Já a ocupação do corpo por inteiro,  implicaria na convergência , entre,  o pensar e o agir, tendo como princípio, a realização , não  apenas,  no ter, mas  no ser, na descoberta, uma forma de iluminação interior, da qual poderíamos chamar de consciência. Comportamentos, ações,  que,  ao invés de compartimentalizar, fragmentar, são ações que  solidificam, sintetizam,   fortalecem ,  empoderam, e expressam   esse mesmo homem. Nesse caso,teríamos um homem mais feliz, completava. A sociedade do Capital, através dos meios de comunicação de massa, Tvs, rádios, jornais etc., tem realizado um papel de supervalorização do consumo. “O famoso, vale quanto pesa”.  Impera-se, o mundo das aparências, dos rótulos,das marcas e do faz de conta. E,  a ordem é consumir, causar, impressionar. O homem, passa a viver, para ter, em detrimento do ser. E, não,  muito raramente, perde-se de si.

A Incursão de Betina, terá como alvo, níveis mais ampliados de   humanidade, de universalidade e de existência humana . E, o percurso, vislumbra  a demarcação de   fronteiras, a  ocupação de  territórios e  a expansão de terrenos já existentes. A preferência é  aquisição de  área fértil, em que  se plantando, tudo da. Mas, o desafio é plantar e colher o que for necessário, com determinação,  fé e precisão .  Os indicadores são ” terrenos e mudas, o tempo e  as estações”.No entanto, Betina confia  no poder da lua cheia. Entende  que a lua tem lá seus poderes e  seus mistérios, na  criação. A viagem , será  pautada por novos encontros, novas trilhas e até quem sabe, caminhos novos. Seu desejo maior, será, nada mais,  nada menos, como Apropriar-se de si e de quebra, encontrar sua turma, sua  tribo, sua matilha.
E, para ressaltar, Pinkola Estés enfatiza: (Pág. 237)


“Os lobos nunca são mais engraçados do que quando perderam a pista e fazem tudo para recuperá-la. Eles saltam  no ar, correm em círculos e escavam o chão com o focinho, arranham o chão, correm adiante, voltam e ficam parados como estátuas. A impressão é de que enlouqueceram . Mas o que eles estão realmente fazendo é recolhendo todos  os indícios que podem encontrar. Estão captando esses indícios com mordidas no ar.   Estão enchendo os pulsões com os cheiros do nível do chão e do nível das espáduas. Eles provam o ar para ver quem passou por ali recentemente, com as orelhas girando como antenas parabólicas, captando transmissões de muito longe. Uma vez que eles tenham esses indícios em ordem, eles sabem como prosseguir.”

Revirar a vida por dentro, seria o caso de Betina?

A vida,   exige pulsão e transbordamento. Viver já não basta. É preciso Pulsar. E,  o intento, seria,  por uma vida mais natural,  mais originária, primitiva ou selvagem.  Aquela que brota,  que principia, como água  ,que,  jorra da fonte, cachoeira ou cascata.
A questão – É, ir ao meu encontro. Pensava. E o Bosque, serviria de referência. De espelho?
A natureza, tem lá,  sua inteligência ,  concluí ela.  É,  a mesma, portadora de uma dinâmica, um fio ,que impulsiona e direciona a travessia,  norteada  pelo processo  de auto-conhecimento,  responsável pela consciência.  É , um movimento de vida e morte,  ordem e desordem.  A natureza,   se faz, e , se refaz no caos. É  assim, também,  na  existência humana. Então, já não basta respirar , é necessário estar vivo. É preciso,  ter olhos para enxergar, ouvidos para ouvir e pés para pisar.
Uma existência exitosa, é calcada em ações harmônicas, integradoras,   forjadas nas necessidades  e acões do inconscientes, num plano elementar,  e,  num plano mais dinâmico,   transformado em  consciência.  E, a  existência para ter significância, realização e plenitude, precisa ser cultivada,  tal  como,  a natureza e o mundo das plantas..  É necessário o cumprimento de todos os estágios.  Mas é imprescindível o cuidar e o  regar.

 E o fogo?

O fogo, prescinde chama acesa. Uma chama duradoura, permanente, que implica em segredos, fase, ciclos. O tempo, sempre foi seu  grande  aliado. E,  grande senhor. Agora,  mais do que nunca,  precisará de serenidade , porque,  terá um grande desafio pela frente. Precisará abrir o seu porão e deixar o ar e a luz entrar. Betina,  necessita estar acordada, para não perder nem um detalhe de vista. Sabe que precisará , flexibilização e amorosidade na revisitação do processo, e , na  realização  dessa    costura interna. Cada etapa,  será compreendida, abraçada e perdoada. Sabe que é humana e  que a história dos homens é escrita ,  por ações afirmativas, como a sua, com direito a acertos e erros. Sempre soube disso. Mas , admite a vida,  como, sendo  uma  grande aventura.


Ah, e o    viço ?

Depois dessa experiência, talvez tenha propriedade para falar sobre ele...

  Autoria: Maria Eugênio Maciel
02-06-2015






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