quarta-feira, 24 de junho de 2015

A vida e a dança,


De longe, avistei um vulto no fundo do mar e naquela água cintilante,  movia-se lindamente. Vi  que tratava-se , de um bicho grande, porque,  sua cauda e seu dorso eram enormes. Era,  nada menos,  do que uma baleia.  Estava,  a mesma , a  dançar uma dança , extraordinariamente sensual. Estaria  mostrando-se , exibindo-se, querendo chamar a minha atenção? Pensei...

Tentei aproximar-me, para assistir , mais de perto o espetáculo. A água estava límpida. O mar tem muitas surpresas, muitos segredos. Seres de muitas formas, multicores, de todos os tamanhos com suas inúmeras e variadas funções.   Vidas que se movem, que cintilam que brilham e que vivem sob  constante movimento. As ondas , que vem e se vão, infinitamente, nunca repetem-se. Tudo é novo naquele cenário. É,  o movimento que promove a vida, tudo move-se , para manter a vida, infalivelmente , acesa.

E a baleia? Bem, ela estava tão agregada,  aquele conjunto infinito de seres,  de mistérios e  imensidões , que nadar era pouco. Agora, era tempo de aventurar-se, pois  viver,  já não bastava...
O sol, chegava forte, luminoso, incandescente, para completar o cenário e deixar tudo mais colorido, mais vivo, mais brilhante. Quais os motivos que levariam uma  a baleia a dançar? Será,  que ela dançava porque ouvia  música ou existiria outros segredos?

Nesse momento, enxerguei a vida feito  um compasso. Percebi ,  que,  dançar desse jeito,  era tão natural,  como respirar. E,  esse,  parecia o  grande segredo. Observei  que o  ar, o sól,  o movimento das ondas e todos os seres,  que compunham esse universo,  estavam todos profundamente integrados ,   que , compartilhavam  daquela  dança...E por alguns, segundos ali, parada, entendi,  que o tempo não existia, 

Existia,  a dança, aquela dança!

E viver, não seria isso?

Autoria: Maria Eugênio Maciel

16-08-214






segunda-feira, 22 de junho de 2015


Quase no Fim

Havia, um casal como tantos outros. Pedro e Nazaré.  Namoraram e depois de muitas afinidades, resolveram casar-se e construir uma família. Os pais, do noivo e da noiva foram agregados . A família foi  aumentada.  A medida que o tempo passava, cresciam  as necessidades. O foco do casal, passou a ser adquirir e construir  seu futuro, e, o  de seus filhos.

E, a medida que  multiplicava-se as posses, a vida tornava-se melhor. O amor ia crescendo ,e, as amizades também. Enxergavam,  um futuro melhor. Tudo brilhava e o amor reluzia.
Nazaré, desempenhava muitos papeis,  como a  lida da casa,  o trabalho fora, cuidado com os filhos e orientação dos mesmos, um fardo bem pesado. Não, lhe  sobrara mais tempo , para cuidar-se e  muito menos, de ficar atraente , cuidar do seu amor e  do seu parceiro.

Nazaré, teve , que fazer algumas escolhas. Escolheu o trabalho, os filhos, enquanto,  a mulher,  ficou espremida, relegada a  último plano. Era , fundamental  cuidar do essencial. E, isso , ela o fez muito bem. Não faltava nada em casa. Comida, roupa lavada,  tudo,  no tempo e hora certa. Mas, de vez em quando, ela  olhava no espelho e percebia –se, meio,  fora de ângulo. Puxa, pensava ela, eu ganhei  bastante peso. Ganhei , também , rugas e olheiras profundas. É, tenho exagerado na comida. Nunca mais fiz mamografia,  e , nem hemograma. E,  a  menopausa,  que vem a galope?Estou ,  mesmo,bem diferente. Mudei bastante. Mas também, tenho trabalhado como uma mula!

 No entanto, ela tinha um grande conforto. Seus filhos, estavam encaminhados na vida. Um deles, até namorada firme, já tinha.

E,  seu marido,o Pedro,  por onde andara ? Ele, não tem mais me procurado...Anda meio  esquisito, estranho... Será, que tem, arranjado alguma coisa por aí?
Não, acho que não!  Na última vez, ele também, não estava o bicho!  Há, mas faz tempo heim?  perguntou-se.  Nem lembrava o mês!

E , já o marido, estava por aí. No futebol, nos botecos bebendo umas  pingas  e jogando um baralhinho. E, de vez  em quando, acompanhava os amigos na pescaria. Precisava ,  distrair-se um pouco,coitado,  também,  trabalhava tanto!
E, Pedro, determinado dia, numa pescaria dessas, com alguns amigos ,  foi  até um bar .E,  lá,  comentam , sobre um bailinho local, um lugar famoso,  por reunir pessoas de todos os lugares e todas as idades.Um lugar, bem próximo ao mar. Decidiram conferir.

No baile,  havia muitas moças e poucos homens. Não deu outra. Pedro,  deu aquela mãozinha. Convidou uma prenda para dançar. E, tudo aconteceu, muito de repente. Tinha gingado a moça, sorriso farto, bom perfume . Há! A moça, não era tão nova, mas era faceira e parece  que gostava de viver. Era,  Lívia,   o tipo de mulher ,que, sempre esteve em sua mente. Foi,  uma grande noite, para ele e para ela também,  teve certeza.

 Naquela noite,  ele , entendeu definitivamente o que era o amor. Foi ,uma noite apenas, porque já era dia,  e , Pedro precisava voltar para casa. Seus cabelos já estavam brancos, mas ele,  já poderia  morrer em paz , pois,  tinha conhecido o amor.


Maria Eugênio Maciel

17-06-2015




quinta-feira, 4 de junho de 2015

A retomada,

Betina volta para casa, mas seu estado emocional, permanece adulterado. Parte dela,  continua no bosque. Sua lente, joga flashs  e  imagens, as vezes confusas e desordenadas. Mas a vida, chama- a de volta.

Betina, vai até o fogão. Pega alguns pedaços de lenha. Ajeita-os delicadamente. Joga um pouco de querosene sobre as palhas de milho. Risca um palito de fósforo. Depois outro. A chama inicia-se, com pouca força. Betina, conhece a arte do fogo. Cuidado e paciência.  Mais um palito. Querosene. Reorganiza e ajeita o espaço, na tentativa de manter e assegurar a chama. É preciso queimar. Arder.
O fogo está forte agora. O fogão é a própria lareira ,  esquenta a casa inteira.  Betina,  coloca água para ferver, precisa de um chimarrão. Está muito frio. E, o sol, começa a dar os primeiros sinais. Dá uma espiadela lá fora. Vê,  o movimento da vida.

Enquanto,  prepara o Chimarrão, pensa na sua lida. Tem alguns desafios pela frente. Está num momento novo. Precisa  mapear,  algumas , questões de ordem. Como o fogo, a travessia necessita de atenção e uso de todos os sentidos. Já a intuição, o pressentimento  e a atenção nos detalhes, é  importante   nos desdobramentos   contribuindo de forma efetiva  na expansão do olhar. A  humildade é também relevante no processo de  revisitação e aceitação, para a adequação aos novos ciclos, responsáveis pelo potencial da criação, recriação e se efetiva no vir à ser.

Betina, entende, que o processo, de reinvenção, passa pela ocupação de si.  A ocupação, reflete o ato de apropriar-se, tomar posse,  de algo, que, ainda  não lhe pertence. Por exemplo. Os corpos, de maneira geral, expressam, alguma  forma de estranheza. É uma sensação de desabitação,  desocupação, desintegração, vazio. Espaço , que precisa ser trabalhado  pelo próprio homem, para não desviar o foco de si  , e , buscar prazeres, compensações  em outros lugares.

O homem, em decorrência do meio social e econômico, ou seja, do tipo de vida que escolheu,  resultante da modernidade, muitas vezes comporta-se de forma dual, dicotômica, conflituosa.  Ou seja, pensa de um jeito e responde de outro, diferentemente daquilo que pensou. As vezes, com mais, outras vezes com menos clareza. Em grande parte,  essas ações, são mecânicas e impensadas.  A origem, tem por base atender princípios e normas, que primam,  não,   pela formação consciente do ser humano, mas, atendendo interesses do modelo econômico de produção vigente, no caso, com ótica no consumo.

Já a ocupação do corpo por inteiro,  implicaria na convergência , entre,  o pensar e o agir, tendo como princípio, a realização , não  apenas,  no ter, mas  no ser, na descoberta, uma forma de iluminação interior, da qual poderíamos chamar de consciência. Comportamentos, ações,  que,  ao invés de compartimentalizar, fragmentar, são ações que  solidificam, sintetizam,   fortalecem ,  empoderam, e expressam   esse mesmo homem. Nesse caso,teríamos um homem mais feliz, completava. A sociedade do Capital, através dos meios de comunicação de massa, Tvs, rádios, jornais etc., tem realizado um papel de supervalorização do consumo. “O famoso, vale quanto pesa”.  Impera-se, o mundo das aparências, dos rótulos,das marcas e do faz de conta. E,  a ordem é consumir, causar, impressionar. O homem, passa a viver, para ter, em detrimento do ser. E, não,  muito raramente, perde-se de si.

A Incursão de Betina, terá como alvo, níveis mais ampliados de   humanidade, de universalidade e de existência humana . E, o percurso, vislumbra  a demarcação de   fronteiras, a  ocupação de  territórios e  a expansão de terrenos já existentes. A preferência é  aquisição de  área fértil, em que  se plantando, tudo da. Mas, o desafio é plantar e colher o que for necessário, com determinação,  fé e precisão .  Os indicadores são ” terrenos e mudas, o tempo e  as estações”.No entanto, Betina confia  no poder da lua cheia. Entende  que a lua tem lá seus poderes e  seus mistérios, na  criação. A viagem , será  pautada por novos encontros, novas trilhas e até quem sabe, caminhos novos. Seu desejo maior, será, nada mais,  nada menos, como Apropriar-se de si e de quebra, encontrar sua turma, sua  tribo, sua matilha.
E, para ressaltar, Pinkola Estés enfatiza: (Pág. 237)


“Os lobos nunca são mais engraçados do que quando perderam a pista e fazem tudo para recuperá-la. Eles saltam  no ar, correm em círculos e escavam o chão com o focinho, arranham o chão, correm adiante, voltam e ficam parados como estátuas. A impressão é de que enlouqueceram . Mas o que eles estão realmente fazendo é recolhendo todos  os indícios que podem encontrar. Estão captando esses indícios com mordidas no ar.   Estão enchendo os pulsões com os cheiros do nível do chão e do nível das espáduas. Eles provam o ar para ver quem passou por ali recentemente, com as orelhas girando como antenas parabólicas, captando transmissões de muito longe. Uma vez que eles tenham esses indícios em ordem, eles sabem como prosseguir.”

Revirar a vida por dentro, seria o caso de Betina?

A vida,   exige pulsão e transbordamento. Viver já não basta. É preciso Pulsar. E,  o intento, seria,  por uma vida mais natural,  mais originária, primitiva ou selvagem.  Aquela que brota,  que principia, como água  ,que,  jorra da fonte, cachoeira ou cascata.
A questão – É, ir ao meu encontro. Pensava. E o Bosque, serviria de referência. De espelho?
A natureza, tem lá,  sua inteligência ,  concluí ela.  É,  a mesma, portadora de uma dinâmica, um fio ,que impulsiona e direciona a travessia,  norteada  pelo processo  de auto-conhecimento,  responsável pela consciência.  É , um movimento de vida e morte,  ordem e desordem.  A natureza,   se faz, e , se refaz no caos. É  assim, também,  na  existência humana. Então, já não basta respirar , é necessário estar vivo. É preciso,  ter olhos para enxergar, ouvidos para ouvir e pés para pisar.
Uma existência exitosa, é calcada em ações harmônicas, integradoras,   forjadas nas necessidades  e acões do inconscientes, num plano elementar,  e,  num plano mais dinâmico,   transformado em  consciência.  E, a  existência para ter significância, realização e plenitude, precisa ser cultivada,  tal  como,  a natureza e o mundo das plantas..  É necessário o cumprimento de todos os estágios.  Mas é imprescindível o cuidar e o  regar.

 E o fogo?

O fogo, prescinde chama acesa. Uma chama duradoura, permanente, que implica em segredos, fase, ciclos. O tempo, sempre foi seu  grande  aliado. E,  grande senhor. Agora,  mais do que nunca,  precisará de serenidade , porque,  terá um grande desafio pela frente. Precisará abrir o seu porão e deixar o ar e a luz entrar. Betina,  necessita estar acordada, para não perder nem um detalhe de vista. Sabe que precisará , flexibilização e amorosidade na revisitação do processo, e , na  realização  dessa    costura interna. Cada etapa,  será compreendida, abraçada e perdoada. Sabe que é humana e  que a história dos homens é escrita ,  por ações afirmativas, como a sua, com direito a acertos e erros. Sempre soube disso. Mas , admite a vida,  como, sendo  uma  grande aventura.


Ah, e o    viço ?

Depois dessa experiência, talvez tenha propriedade para falar sobre ele...

  Autoria: Maria Eugênio Maciel
02-06-2015






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