A retomada,
Betina volta para casa, mas seu
estado emocional, permanece adulterado. Parte dela, continua no bosque. Sua lente, joga
flashs e
imagens, as vezes confusas e desordenadas. Mas a vida, chama- a de
volta.
Betina, vai até o fogão. Pega
alguns pedaços de lenha. Ajeita-os delicadamente. Joga um pouco de querosene
sobre as palhas de milho. Risca um palito de fósforo. Depois outro. A chama
inicia-se, com pouca força. Betina, conhece a arte do fogo. Cuidado e
paciência. Mais um palito. Querosene.
Reorganiza e ajeita o espaço, na tentativa de manter e assegurar a chama. É
preciso queimar. Arder.
O fogo está forte agora. O fogão
é a própria lareira , esquenta a casa
inteira. Betina, coloca água para ferver, precisa de um chimarrão.
Está muito frio. E, o sol, começa a dar os primeiros sinais. Dá uma espiadela
lá fora. Vê, o movimento da vida.
Enquanto, prepara o Chimarrão, pensa na sua lida. Tem
alguns desafios pela frente. Está num momento novo. Precisa mapear,
algumas , questões de ordem. Como o fogo, a travessia necessita de
atenção e uso de todos os sentidos. Já a intuição, o pressentimento e a atenção nos detalhes, é importante
nos desdobramentos contribuindo de forma efetiva na
expansão do olhar. A humildade é também
relevante no processo de revisitação e
aceitação, para a adequação aos novos ciclos, responsáveis pelo potencial da
criação, recriação e se efetiva no vir à ser.
Betina, entende, que o processo,
de reinvenção, passa pela ocupação de si.
A ocupação, reflete o ato de apropriar-se, tomar posse, de algo, que, ainda não lhe pertence. Por
exemplo. Os corpos, de maneira geral, expressam, alguma forma de estranheza. É uma sensação de
desabitação, desocupação, desintegração,
vazio. Espaço , que precisa ser trabalhado
pelo próprio homem, para não desviar o foco de si , e , buscar prazeres, compensações em outros lugares.
O homem, em decorrência do meio
social e econômico, ou seja, do tipo de vida que escolheu, resultante da modernidade, muitas vezes
comporta-se de forma dual, dicotômica, conflituosa. Ou seja, pensa de um jeito e responde de
outro, diferentemente daquilo que pensou. As vezes, com mais, outras vezes com
menos clareza. Em grande parte, essas
ações, são mecânicas e impensadas. A
origem, tem por base atender princípios e normas, que primam, não,
pela formação consciente do ser humano, mas, atendendo interesses do
modelo econômico de produção vigente, no caso, com ótica no consumo.
Já a ocupação do corpo por
inteiro, implicaria na convergência ,
entre, o pensar e o agir, tendo como
princípio, a realização , não
apenas, no ter, mas no ser, na descoberta, uma forma de iluminação interior, da qual poderíamos chamar de consciência. Comportamentos, ações, que,
ao invés de compartimentalizar, fragmentar, são ações que solidificam, sintetizam, fortalecem , empoderam, e expressam esse mesmo homem. Nesse caso,teríamos um
homem mais feliz, completava. A sociedade do Capital, através dos meios de
comunicação de massa, Tvs, rádios, jornais etc., tem realizado um papel de
supervalorização do consumo. “O famoso, vale quanto pesa”. Impera-se, o mundo das aparências, dos
rótulos,das marcas e do faz de conta. E, a ordem é
consumir, causar, impressionar. O homem, passa a viver, para ter, em detrimento do ser. E, não, muito raramente, perde-se de si.
A Incursão de Betina, terá como alvo,
níveis mais ampliados de humanidade, de
universalidade e de existência humana . E, o percurso, vislumbra a demarcação de fronteiras, a ocupação de
territórios e a expansão de
terrenos já existentes. A preferência é
aquisição de área fértil, em
que se plantando, tudo da. Mas, o
desafio é plantar e colher o que for necessário, com determinação, fé e precisão . Os indicadores são ” terrenos e mudas, o
tempo e as estações”.No entanto, Betina
confia no poder da lua cheia.
Entende que a lua tem lá seus poderes
e seus mistérios, na criação. A viagem , será pautada por novos encontros, novas trilhas e
até quem sabe, caminhos novos. Seu desejo maior, será, nada mais, nada menos, como Apropriar-se de si e de
quebra, encontrar sua turma, sua tribo,
sua matilha.
E, para
ressaltar, Pinkola Estés enfatiza: (Pág. 237)
“Os lobos nunca são mais
engraçados do que quando perderam a pista e fazem tudo para recuperá-la. Eles
saltam no ar, correm em círculos e
escavam o chão com o focinho, arranham o chão, correm adiante, voltam e ficam
parados como estátuas. A impressão é de que enlouqueceram . Mas o que eles
estão realmente fazendo é recolhendo todos
os indícios que podem encontrar. Estão captando esses indícios com
mordidas no ar. Estão enchendo os
pulsões com os cheiros do nível do chão e do nível das espáduas. Eles provam o
ar para ver quem passou por ali recentemente, com as orelhas girando como
antenas parabólicas, captando transmissões de muito longe. Uma vez que eles
tenham esses indícios em ordem, eles sabem como prosseguir.”
Revirar a vida
por dentro, seria o caso de Betina?
A vida, exige pulsão e transbordamento. Viver já não
basta. É preciso Pulsar. E, o intento,
seria, por uma vida mais natural, mais originária, primitiva ou selvagem. Aquela que brota, que principia, como água ,que,
jorra da fonte, cachoeira ou cascata.
A questão – É,
ir ao meu encontro. Pensava. E o Bosque, serviria de referência. De espelho?
A natureza, tem
lá, sua inteligência , concluí ela.
É, a mesma, portadora de uma
dinâmica, um fio ,que impulsiona e direciona a travessia, norteada pelo processo de auto-conhecimento, responsável pela consciência. É , um movimento de vida e morte, ordem e desordem. A natureza,
se faz, e , se refaz no caos. É
assim, também, na existência humana. Então, já não basta
respirar , é necessário estar vivo. É preciso,
ter olhos para enxergar, ouvidos para ouvir e pés para pisar.
Uma existência
exitosa, é calcada em ações harmônicas, integradoras, forjadas nas necessidades e acões do inconscientes, num plano elementar, e, num plano mais dinâmico, transformado em consciência. E, a
existência para ter significância, realização e plenitude, precisa ser
cultivada, tal como,
a natureza e o mundo das plantas..
É necessário o cumprimento de todos os estágios. Mas é imprescindível o cuidar e o regar.
E o fogo?
O fogo, prescinde chama acesa. Uma chama duradoura, permanente, que implica em segredos, fase, ciclos. O tempo, sempre foi seu grande aliado. E, grande senhor. Agora, mais do que nunca, precisará de serenidade , porque, terá um grande desafio pela frente. Precisará abrir o seu porão e deixar o ar e a luz entrar. Betina, necessita estar acordada, para não perder nem um detalhe de vista. Sabe que precisará , flexibilização e amorosidade na revisitação do processo, e , na realização dessa costura interna. Cada etapa, será compreendida, abraçada e perdoada. Sabe que é humana e que a história dos homens é escrita , por ações afirmativas, como a sua, com direito a acertos e erros. Sempre soube disso. Mas , admite a vida, como, sendo uma grande aventura.
Ah, e o viço ?
Depois dessa experiência, talvez tenha propriedade para falar sobre ele...
Autoria: Maria Eugênio Maciel
02-06-2015
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