Acendendo o
Fogo,
Betina
acordou. Já é dia pensou. Preciso levantar. ..
Betina
gostava de acordar cedo. Costuma pensar que o amanhecer é carregado de magia,
um espetáculo imperdível.
O cantar dos
galos. O agito dos bichos reclamando por comida...
E as árvores, naquele arvoredo, tinham identidade e linguagem própria. Pareciam compreender o doce
mistério da vida. E para completar o
cenário, naquele dia, assoviam e dançavam...
Betina era
menina moça. Desde muito cedo, compreendeu que sua relação com essa
vida, teria um tom diferente das demais meninas de sua época. Sabia também, que
não trilharia um lugar dito comum. Sacava , que precisaria construir sua trilha,diferentemente de sua
tribo, mediante um percurso longo e solitário.
Entendia que o amanhã estaria fincado no
hoje. E, a verdade, que lhe parecia razoável, deveria ser carregada de sentido e
de realização. Seu espírito curioso, investigativo, atento, sugeria a vida como
um movimento do vir a ser. Uma espécie de desembrulho.
Adotava como lema: Perambular, tatear, vasculhar e escavar. Muitas vezes, atuava como quem procura agulha num palheiro. Procurava, o que não tinha perdido, com devoção. Betina escolheu como ferramentas, Serrote, Martelo e Pregos, porque seu ofício era abrir e fechar fendas, buracos. Sabia, que precisava de perfeição, mestria. Que o trabalho era árduo e duradouro, mas no final, teria sua recompensa...
Adotava como lema: Perambular, tatear, vasculhar e escavar. Muitas vezes, atuava como quem procura agulha num palheiro. Procurava, o que não tinha perdido, com devoção. Betina escolheu como ferramentas, Serrote, Martelo e Pregos, porque seu ofício era abrir e fechar fendas, buracos. Sabia, que precisava de perfeição, mestria. Que o trabalho era árduo e duradouro, mas no final, teria sua recompensa...
E, qual a procura de Betina?
Ainda jovem, entendia que a
vida, para valer a pena, precisaria ser
conquistada, palmo à palmo. Tarefa não muito fácil ,para uma menina magricela e franzina.
Por viver no campo. Entendia de lua, de chuva, de ventos e trovoadas. Apesar de algum medo, tinha relação estreita
com escuridões e tempestades. Adotara uma visão mais naturalística sobre o
tempo. Um olhar um tanto apurado sobre o uso da terra, do plantio e da
colheita. Entendia que o cultivo teria lá os seus segredos. Laborar... E, que o uso da paciência,
nesse quesito, poderia atuar como grande
aliado. Aliás, como em tantas coisas nessa vida. Concluía,
então, que a vida prescinde de
morte. Seria , o caso da semente, que , morre, para depois germinar . Pensava ela... E, esse movimento natural da
planta, teria alguma relação com a natureza de vida humana? E, em que medida precisaríamos morrer, para viver de forma mais plena, mais significativa e
transformadora? E, o que precisaria de fato morrer?
Betina, apresentava, dificuldade de
se enquadrar, de cumprir regras, e , principalmente as que se tratassem da obediência. Viveria em suas entranhas, grande conflito, quanto ao significado e
aplicação desse termo. O que, lhe rendendera, muitas dores de cabeça. Era
criativa, tinha percepção aguçada, espírito brincalhão, mas, seu ideário, era manter de pé, essa alegria. Pra sempre! Sentia prazer em caminhar
por caminhos não trilhados.Um frio na barriga... E, alguns, poderiam entender, como transgressão, e seria, mas, para Betina, era, tocar o sagrado...
Gostava de tudo, que cheirasse agreste e que, possibilitasse expressar, sua natureza mais primitiva ou natural. Era do campo, mas gostava de ler.
Principalmente coisas que refletisse o mundo interior, ligada aos " sete
mares" ou a natureza profunda do self ( inconciente/consciente). Provavelmente, intuía, que a
alegria, era resultante de uma força interior maior, uma espécie de chama acesa, força integradora,
resultante de algumas conquistas internas, que eu chamaria liberdade,
autonomia.
Certo dia,
Betina tomou coragem e adentrou floresta dentro, sozinha. Apesar, de alguns sobressaltos movidos pelo medo, estava determinada
a entrar e viver aquele barato. Enquanto caminhava, enxergava encantada,
diversos tipos de flores, árvores, matas, plantas de diversos tamanhos e formas. Um coloridos, de doer os olhos. Uma diversidade de bichos, insetos e aves etc. e tudo compunha, aquela paisagem . Um momento indescritível de pura adrenalina e emoção. Os sapos e grilos,
comandariam a orquestra, sob, os diversos sons ritmados e em perfeita harmonia. E, tudo movia, tudo
dançava. Betina também dançava! Um contexto extraordinário e arrebatador. No entanto,
depois dessa incursão, o bosque, ficou colado em sua retina. Teria sido maldição, pela transgressão? Ou, o passeio teria sido apenas uma iniciação? Enquanto isso, Betina, pacientemente, reorganizava suas ferramentas, porque, sabia
que teria muito chão pela frente. Há! E certamente, precisaria muitos pregos...
Maria Eugênio Maciel
20-04-2015