domingo, 20 de dezembro de 2015




As emoções, como  arte e costura humana, 

O homem, relaciona-se com o mundo, através de um processo dialético, envolvendo os aspectos físico, psicológico, intelectual e espiritual. Ele, modifica   e ao mesmo tempo é modificado por ele.  O campo emocional,  é, um fio, que permeia toda história de vida, e, se efetiva, como um fenômeno complexo, decorrência de uma alteração intensa do ânimo, podendo , tal sentimento,  ser agradável,  ou,  desagradável, consequência,  do processo de  comoção somática.  As emoções, exercem um papel significativo , no desenvolvimento humano, capaz,  de produzir , bem estar, ânimo,  motor, na superação dos   problemas, ou,  atuar, como , fomentadora de doenças psicossomáticas, quando,  em desequilíbrio. O desafio da psicanálise, é proceder estudos, ações,  capazes de trabalhar a flexibilidade nas atitudes,  frente aos paradigmas construídos, sobre os afetos, emoções e desejos, com ênfase na energia emocional, como fonte de vida, alegria, amor e sentido. E, essa energia, pertence a personificação da matéria, sujeita  a condição física e química, que, é traduzida,  como,  forma de emoção na vida das pessoas.
O homem, na sua incompletude,   traz consigo, a  necessidade de estar integrado, em harmonia , com o mundo que o cerca, apesar de sua diversidade , facetas e multiplicidades. Entretanto, são muitos os fatores que atuam na dinâmica humana, alterando o estado emocional  e psíquico, em sua formação. As primeiras impressões emocionais,  decorrentes das experiências familiares, como,  relação materna, paterna , e,   relação com os irmãos, são, fundamentais  , definitivas , e, estruturantes,  para uma vida inteira. E, dependendo da qualidade dessas relações, teremos uma vida  psíquica mais  ,ou ,  menos saudável . Nesse sentido,  Viorst, ( 1988, p. 20), afirma: 

“Temos que suportar perdas. Mas, se nossa mãe nos deixa quando somos muito novos, despreparados, assustados, desamparados, o preço desse abandono, o preço dessa perda, o preço dessa separação pode ser alto demais. Há,  um tempo certo para separarmos de nossa mãe. Porém, a não ser,  que estejamos preparados para a separação, a não ser que estejamos prontos para deixá-la,  e , ser deixados por ela, qualquer coisa é melhor do que a separação.”

Segundo  Viorst (1988) A mãe é um   laço forte, uma figura determinante,  na vida de uma   criança. Ela,  é o seu primeiro amor, a sua extensão, porque,   atua,  como espelho,  é através dela que o bebê, enxerga,  percebe—se  , amplia-se  pelo olhar ,é  aprovada , é, encorajada  à viver . Ela, engatinha, fica de pé, dá  os primeiros passos , vai avançando em sua liberdade, sentindo-se assegurada e protegida pela mãe, e,  pela qualidade do vivido,  sabe, que pode  contar com ela. Sua presença é reconhecida pelo tom de voz, calor, toque e cheiro. É,  uma comunicação poderosa, indispensável.  E, quanto mais segura e confiante, melhor é o seu desempenho ,  por toda uma vida. No entanto, quanto menor  é a criança, maior é a  falta sentida de presença da mãe,    independente,  do cuidado da pessoa   que  a  substitua,  porque,  uma vez,  que ,  o vínculo esteja formado, a ausência  é sentida como perda,  na falta de  presença. Somente,  aos três anos,  e, de forma gradual,   é , que a criança adquire a noção , de,  que,  a mãe vai voltar para ela. E,   Muitas vezes, a presença da mãe, não  é muito saudável, pelo  perfil  de mãe, que a mesma apresenta, como rigidez,  autoritarismo, excesso de flexibilidade, mas, não importa o tipo de mãe, se abraça ou se machuca, uma criança, ao separar-se , perde,  porque,  a presença  em si, emite segurança, vínculo , e,  a sensação de bem estar , estará  assegurada.
Contudo, o crescimento humano prescinde afastamento, e, quando a mãe ausenta-se, por inúmeras razões, desde trabalho fora, compromissos, dar conta de sua vida,  o afastamento,  precisa ser trabalhado, do contrário, causará algum dano, porque, a criança, apresentará dificuldades para sobreviver, podendo seus efeitos, tornar-se dolorosos e marcantes. Uma criança com seis meses, já , concebe a mãe ausente, suscitando  na ausência,  dor e  sofrimento. E, quando a criança , não é atendida nas suas necessidades  primárias, emergenciais, ao lembrar-se da mãe, sente-se abandonada, rejeitada, desamparada . Então, essa emoção, marcada pela  falta , dor e sofrimento, são registradas, com as repetições, como falta de provisão, falta de suprimento,  que, poderão  evoluir , ou desdobrar-se, ao longo dos anos, por uma vida inteira, repercutindo,  no processo global humano, e, que poderá   traduzir-se , como insegurança, insatisfação, falta de prazer, de alegria, problema de auto-estima, ou ainda, transformado-se,   em neuroses, apresentadas  como doenças.

Segundo Viorst ( 1988) estudos, originários de Freud, evidenciam , que todos nós, sofremos de influência e somos alimentados por dois instintos básicos, o agressivo e o sexual. E, o sexo e a  agressão, estão,  na maioria das vezes,  implicados entre si.  Por exemplo, um ato violento, tem relação com a sexualidade de forma inconsciente. As forças que habitam os humanos, como amor e ódio, sexualidade e agressividade, vida e morte, estão presentes no cotidiano, tanto nos conflitos mais banais, quanto,  nos mais mórbidos , ou,  sublimes da humanidade. Os pares de opostos estarão , misturados, amalgamados em tudo que o humano realiza, sente  ou pensa. Ou seja, onde existe amor, existe ódio, porque,  toda sexualidade, é composta por agressividade, em proporções maiores ou menores, sendo, as polaridades, o ponto alto  dos conflitos psíquicos. Na psicanálise, são,  também entendidos pelos conceitos de pulsão de vida (Eros) e pulsão de morte (Thânatos). O organismo humano, vive  permanentemente, entre,  os dois movimentos  Um a favor da vida , e,  outro , em favor da destruição da mesma. Então, o primeiro, “Eros” utiliza-se do potencial da inteligência para proteger a vida, e “Thânatos”,  utiliza-se  do traço sádico,  para destruição da mesma.  Por isso, os conceitos de Amor e Ódio, são duas faces de uma mesma moeda, independentemente de nossa capacidade de compreensão ou de aceitação. A natureza, de forma prodigiosa, usa um par de antídotos, para manter o amor sempre vigilante.
Segundo Pereira, (2012)  a biofilia, é , apresentada como fonte de vida natural, como pulsão de vida   e,  a necrofilia, como,  pulsão de morte, resultado do  processo somático. As duas categorias,  contemplam um potencial de energia agressiva e  que,  poderão,  deslocar-se para preservação ou destruição da vida. Os desejos sádicos, agressivos e cruéis,  são oriundos de emoções relacionadas ao prazer, gratificação e satisfação. Produzem efeitos de euforia e excitação. Quando, conseguimos compreender, ou, nos situar frente a questões conflituosas, desconcertantes, etc,  , podemos seguir , na direção de superação do padrão,  pela revisão da postura , ou, ainda, pela negação ou omissão, repetir comportamentos e atitudes, como expressão de dor e  sofrimento. Contudo, quando, esse ecletismo de emoções, passam desapercebidos, inconscientes, vive-se,  muitas vezes,  uma espécie de automatismo , repetição  de atitudes, e, com isso,  a insatisfação, a  tristeza, o  sofrimento, a apatia etc.  Muitas pessoas, fogem das emoções, de situações conflitantes, porque, não aprenderam a lidar com elas. No entanto, é um exercício, que iniciado, aos poucos,  perde-se gradualmente o medo, e as situações novas, passam a ser enfrentadas, desde,  que trabalhadas.
A agressão, é uma reação não inata. Ela surge, no mundo das defesas. O homem, desde muito cedo , no início dos tempos , aprendeu a defender-se, porque,  do contrário,  seria engolido pelas adversidades, como, inimigos, intempéries, barbáries. Os fenômenos responsáveis pela insegurança, como, medo, agressão, que,  são mecanismos desenvolvidos ao longo da vida, como, experiências agressivas,  do meio. O ódio humano, na sua forma inata e,  ou,  ambiental, está vivo, misturando-se com o amor, o tempo inteiro, permeado pelas emoções, nas relações e interações.E, para enfatizar, Viorst, afirma:
” O  Psicanalista Rollo May, argumenta que ambos são partes do que ele chama de daimonic, que inclui sexo e agressão, o criativo e o destrutivo, o nobre e o vil. O impulso de todo ser para afirmar-se, perpetuar-se , crescer, é ,  proveniente de uma força além do bem e do mal. Uma força que se não canalizada, pode nos levar a matar cegamente, uma força , que,  repudiada pode nos deixar apáticos e semimortos, uma força que, quando integrada, a nosso eu, pode vitalizar todas as nossas experiências. Assim, o amor não é ameaçado pelo daimonic, mas pela nossa negação dele, por nossa incapacidade de aceitá-lo com a agressividade e tudo o mais, como algo nosso. E, May cita o poeta Rilke, que diz: Se meus  demônios me abandonarem, temo que meus anjos desapareçam também. E May diz:  Por isso, “devemos abraçar os dois”.

A ideia de perfeição humana,   a imagem,  e , semelhança de Deus, é algo que nos  afeta , nos impulsiona , e,  nos conflitua. No entanto,  o homem, é um ser imperfeito e inacabado, e, suas ações transitam, atuam entre,   essas,  duas faces contraditórias ,  Amor e Ódio. Ora,  somos expressão de amor, ora, somos  expressão de ódio.  Ora anjos,  e,   ora demônios. Ou seja, fruto de um somatório  de experiências,  que,  mesmo,  relegadas ao inconsciente,  interferem, influenciam   e determinam,  as nossas ações, permeadas por  emoções, representante  do bem e do  mal, movidas por imagens, símbolos, sons , leituras, etc.  As emoções de raiva, ódio e agressão, também , que,  surgem,  nas  sensações de confrontos  , conflitos , que, nos remete a lugares que  visitamos, quando  vinculamos essa emoção, independente,  de compreensão ou de  uma interpretação racional. As emoções, em algumas situações, exercem,  forte poder de atuação, sobre,   a vítima no sentido da sedução, do prazer e vantagens , calcadas no mais profundo desejo, permeada por sentimentos contraditórios como: medo, insegurança, raiva e ao mesmo tempo,  satisfação. Já, o medo , a angústia e a ansiedade, embaçam a visão, na realização de uma  escolha, em âmbito geral, tanto no âmbito profissional,  ou de ordem  afetiva.
Cada emoção, tem  um filtro, uma lente, que,  influencia nas verdades,  permeada  por crenças, costumes, culturas , de uma  sociedade. Contudo,  o ser humano,  dispõe de condições, requisitos, para,   alteração  e modificação   dessa ordem, porque, no processo de existência, do vir à ser, os sujeitos, são atores, artífices, escultores,  pintores de sua imagem, escolhedores de temáticas, tecedores de fios, escolhedores de tonalidades e cores, permeadas por ações, e, pelo inconsciente. O artista, ao realizar sua  obra, ao compô-la, recompõe-se, ressurge-se,  em cada nova composição.

Segundo Pereira, (2012) a Inteligência orgásmica, é portadora de uma comunicação simbólica e que escapa a simples observação,  do organismo fisiológico, necessitando , habilidades,  para um  diagnóstico preciso, sobre,  a interpretação dessas imagens, porque,  elas,   se dispõe, na direção da consciência, pelo caminho da simbologia e linguagem não verbal. Todavia, a inteligência organísmica, procura satisfação, nas necessidades básicas, mas aponta, sobretudo, na perspectiva, de,  realizar seus mais nobres desejos,  de alegria e felicidade. E, esta emoção vital, necessita de uma dose de iniciativa e coragem, para o desbravamento interior, na busca de sentido,  e , de existência.  Já, a indisposição da mesma, poderá ,  desencadear uma enorme carência,  como, ausência de si, e , em níveis mais acentuados, transformar-se-á,  em doenças físicas, ou psicossomáticas, como, síndrome do pânico, depressão, TOC e tantas outras. E, não é muito raro, nos depararmos,  com , formulações de realidades,  distorcidas, equivocadas e irreais, e, que, trazem como consequência, alguns danos emocionais. Contudo, entende-se, que, quanto maior for  a capacidade que temos em compreender, nos situar de  drenar e  canalizar essas emoções, melhor , realizaremos nossas escolhas e mais gratificados ficaremos. Consequentemente, mais colorida ficará  a nossa  vida, porque,  a energia psíquica , que,   decorre ,  é, transformada em pulsão, responsável,  pela fonte de vida e bem estar.

Qualquer pessoa,  desprovida das emoções, torna-se, amorfo, indiferente, calculista e racionalista, que , resulta na formação de  um caráter mais endurecido, ou , até mesmo, a  neurótico ,como  conseqüência,  da rigidez do pensamento. Contudo,  quanto maior for   a flexibilidade,  na formulação  do pensamento   nas atitudes,  melhor será a percepção do olhar, porque,  o sistema psíquico  vai ampliando-se, tornando-se mais, dinâmico,  evolutivo , saudável, traduzido-se,  como, segurança,  conforto e alegria.

O inconsciente, como uma espécie de arquivo, tem registrado , impressões, sensações, que,  ficam acomodadas, inoperantes , por algum tempo, ou, até por uma vida inteira . Mas, basta  a conexão com   uma emoção, para,  acender o poder de atuação e desencadear os insights, como,  uma espécie de efeito cascata.  Já, as informações de  memórias  acessadas,  poderão,  instituir realidades  e   efeitos,  como:  desarmonia, infelicidade, tristeza,  conflitos, etc,  mas,  quando estamos dispostos à revisitações, poderemos revisitar esses conceitos e emoções, ressignificando-os, ampliando o nosso olhar, jogando luz onde existe sombra, na direção da consciência.Para uma emoção, não existe tempo, presente, passado e futuro. Suas ações e reações, não obedecem a  cronologia do tempo e espaço, sob a perspectiva ,   que,   adquirimos em nossa cultura. Qualquer tempo,  é , tempo de redefinições, reformulações , costuras. E a psicanálise humanista,  em seu ofício,  prima,  pela formulação  e desenvolvimento do homem de forma abrangente, atuando sobre a dimensão psíquica, como, geradora e fomentadora de energia vital, utilizando-se,  da compreensão da linguagem simbólica e dos desejos humanos, como objeto de pesquisa. 

 As pessoas em geral,  pelo cuidado com a exposição da imagem, resultante do processo do  narcisismo, evitam,  as vezes,  os riscos necessários numa decisão, reproduzindo , negando e reprimindo emoções , impedindo novas possibilidades,  de realização e  de existência, por acomodação, preconceitos,ou, firmar-se , em  paradigmas ultrapassados etc. Presenciamos, diariamente, nos canais de Tvs, que, desviam a nossa atenção, com informações,  de,  crueldades, violência, incluindo filmes de horror, medos,  atos de atrocidade,  em nome da audiência e  do espetáculo, idéias,  que repetidas, incidem,   sobre nossa  base racional humana e fomenta a pulsão destrutiva, que,  tem desfecho,  à barbárie e   à violência. 

Percebe-se, que, a grosso modo, quem dita os padrões de ideal, de uma sociedade, são as mídias sociais e o mercado de consumo. Um aspecto relevante, no cenário, é, que as pessoas são reconhecidas, e, valorizadas pelo grau de consumo, pela aparência. Se consome, tem reconhecimento , pelo que adquirem, então, o mercado valoriza e sua “ auto estima aumenta”.  Não, que,  seja “pecado”   consumir, gastar,  naquilo que lhe causa desejo. Mas, um estremo é a inversão desses  valores. Ou seja, as pessoas, buscam o reconhecimento e auto- estima, pela ótica exacerbada  do consumo.  É, o famoso vale quanto pesa. E, os meios de comunicação de massa, são,  os grandes responsáveis por isso. E, a Tv brasileira, bem como,  as mídias sociais, invadem  os lares e as casas e substituem  os espaços de comunicação e diálogo. As pessoas, por conta disso, conversam pouco,  leem pouco, refletem pouco sobre suas vidas , suas relações,  detendo-se apenas em responder demandas interiores ,  nas relações e situações, atuando, como,  apagadores de incêndio.
O processo de realização humana, é, abrangente, variável e único. As experiências  realizadoras e de  desenvolvimento humano,   dependem  de  prontidão e maturidade  sobre as escolhas . E, o que acrescenta , amplia e gratifica,  é,  o que dá  maior sentido à  vida. Existe,  um universo extenso e variado , que,  auxilia na construção da arte humana. Como por exemplo, a arte em geral, o esporte, a dança, a música, a pintura, a literatura, a poesia e a escrita, entre outros.  São lugares, horizontes, lentes, que permitem acessar,   novos  pontos de vista, formas de organização, culturas, que,  fazem pensar sobre a vida, no sentido da reformulação, como,  movimento do vir à ser.  Uma vida emocional saudável, requer buscas, encontro consigo mesmo, como ampliação de  perspectivas, de consciência e transformação.

E, o papel da psicanálise, nada mais é, do que propor uma reflexão crítica, sobre a realidade social, com a finalidade,  de,  reafirmar a necessidade,  do  desenvolvimento de pessoas autônomas, com liberdade de fazer escolhas, decidir suas vidas , na orientação,  do desenrolo da existência . E, o psicanalista, com a função de observador, inquisidor,  provocador, questionador, em sua tarefa, tem a incumbência de   propiciar  situações ponte,  aos analisando,  fomentando situações de religamentos,  necessários   nessa produção,  promovendo suporte, amorosidade, apoio, nos  desdobramentos do processo . Este profissional, quando,  começa a investigar e aproximar-se da atuação de uma emoção, percebe, que,  ao pinçar  aquela emoção importante,  que,  acionada  a primeira, na sequência , desencadearão,  muitas outras , ligadas a mesma experiência.  Seu papel , é,  então, o  de, condutor, orientador  do processo de  Redesenha mento  humano, que, paira,  sobre os  seus cuidados,  com base no link das emoções.


BIBLIOGRAFIA 

1. PEREIRA, Salésio Plácido. A complexidade do Inconciente na Psicanálise Humanista.1ª.Ed. M.G, ITPOH, 2008.



2,PEREIRA, Salésio Plácido. Conheça suas Emoções.1ª.ITPOH,  Santa Maria,2012

.

3.VIORSIT, Judith; Perdas Necessária. 6ª. Ed. São Paulo: Cia Melhoramentos, 1988.





terça-feira, 28 de julho de 2015

CAVALO BRAVO


No dorso do cavalo bravo,
Desenrolava-se o galope , precipitado, forte, ávido,
Vivenciava , furor, medo,
Impotência,  altivez,sobressalto,

Colei-me  nele,
 Assim, estaria mais “protegida” no vôo,
Avistara sinais de perigo,  ao mesmo tempo,  confiança no ar,
Sintonia e comunicação, sabia , que escutava-me,
Agarrei-me,   firmemente,  em suas  as crinas,
Carreguei-me  de coragem,
Sob corcoveio, saltos  e relinchos,
Um movimento,  em espiral,

Questões plainariam o  ar...
Haveria protesto, desacomodarão, luta, desatino?

Mas, era necessário soltar as rédeas,  deixá-lo ir, porque,   tinha destino próprio...
Susto, improvisação ,apavoramento, dor, sofreguidão, suspense,
 Batidas no coração,

Por alguns,  segundos, fiquei  suspensa no ar,

Transitoriedade,
Transbordamento,
Exuberância,


E, nesse mundo,   havia um ritmo, quase uma dança,


Uma fusão de almas,
Estaria  eu animal?

Deixei-me levar no galope. O cavalo bravo é rebelde, seu movimento é próprio, primitivo,  original . Não aceita condução . Vai onde ninguém foi ,   arranca, o que nunca foi plantado.
Sua força é arrasadora, inovadora, voraz, tal como o rio. Difícil é contê-lo. E, a  nascente, se preservada, deságua sempre no mar. É,   a vida sendo refeita, reformulada, ampliada, para fluir,
O cavalo bravo, mesmo,  no estranhamento ou abrupta mento , é movimento de cura, ,quando, captamos sua linguagem, lemos sua expressão, e,  transformamos  o assombramento , em força que dança.  Aí,   seu cavalgar nos protege em  vida , sobretudo, quando ,  atravessamos a morte dançando, embevecidos de poesia.


 Autoria: Maria Eugênio Maciel


28-07-2015
   









quarta-feira, 24 de junho de 2015

A vida e a dança,


De longe, avistei um vulto no fundo do mar e naquela água cintilante,  movia-se lindamente. Vi  que tratava-se , de um bicho grande, porque,  sua cauda e seu dorso eram enormes. Era,  nada menos,  do que uma baleia.  Estava,  a mesma , a  dançar uma dança , extraordinariamente sensual. Estaria  mostrando-se , exibindo-se, querendo chamar a minha atenção? Pensei...

Tentei aproximar-me, para assistir , mais de perto o espetáculo. A água estava límpida. O mar tem muitas surpresas, muitos segredos. Seres de muitas formas, multicores, de todos os tamanhos com suas inúmeras e variadas funções.   Vidas que se movem, que cintilam que brilham e que vivem sob  constante movimento. As ondas , que vem e se vão, infinitamente, nunca repetem-se. Tudo é novo naquele cenário. É,  o movimento que promove a vida, tudo move-se , para manter a vida, infalivelmente , acesa.

E a baleia? Bem, ela estava tão agregada,  aquele conjunto infinito de seres,  de mistérios e  imensidões , que nadar era pouco. Agora, era tempo de aventurar-se, pois  viver,  já não bastava...
O sol, chegava forte, luminoso, incandescente, para completar o cenário e deixar tudo mais colorido, mais vivo, mais brilhante. Quais os motivos que levariam uma  a baleia a dançar? Será,  que ela dançava porque ouvia  música ou existiria outros segredos?

Nesse momento, enxerguei a vida feito  um compasso. Percebi ,  que,  dançar desse jeito,  era tão natural,  como respirar. E,  esse,  parecia o  grande segredo. Observei  que o  ar, o sól,  o movimento das ondas e todos os seres,  que compunham esse universo,  estavam todos profundamente integrados ,   que , compartilhavam  daquela  dança...E por alguns, segundos ali, parada, entendi,  que o tempo não existia, 

Existia,  a dança, aquela dança!

E viver, não seria isso?

Autoria: Maria Eugênio Maciel

16-08-214






segunda-feira, 22 de junho de 2015


Quase no Fim

Havia, um casal como tantos outros. Pedro e Nazaré.  Namoraram e depois de muitas afinidades, resolveram casar-se e construir uma família. Os pais, do noivo e da noiva foram agregados . A família foi  aumentada.  A medida que o tempo passava, cresciam  as necessidades. O foco do casal, passou a ser adquirir e construir  seu futuro, e, o  de seus filhos.

E, a medida que  multiplicava-se as posses, a vida tornava-se melhor. O amor ia crescendo ,e, as amizades também. Enxergavam,  um futuro melhor. Tudo brilhava e o amor reluzia.
Nazaré, desempenhava muitos papeis,  como a  lida da casa,  o trabalho fora, cuidado com os filhos e orientação dos mesmos, um fardo bem pesado. Não, lhe  sobrara mais tempo , para cuidar-se e  muito menos, de ficar atraente , cuidar do seu amor e  do seu parceiro.

Nazaré, teve , que fazer algumas escolhas. Escolheu o trabalho, os filhos, enquanto,  a mulher,  ficou espremida, relegada a  último plano. Era , fundamental  cuidar do essencial. E, isso , ela o fez muito bem. Não faltava nada em casa. Comida, roupa lavada,  tudo,  no tempo e hora certa. Mas, de vez em quando, ela  olhava no espelho e percebia –se, meio,  fora de ângulo. Puxa, pensava ela, eu ganhei  bastante peso. Ganhei , também , rugas e olheiras profundas. É, tenho exagerado na comida. Nunca mais fiz mamografia,  e , nem hemograma. E,  a  menopausa,  que vem a galope?Estou ,  mesmo,bem diferente. Mudei bastante. Mas também, tenho trabalhado como uma mula!

 No entanto, ela tinha um grande conforto. Seus filhos, estavam encaminhados na vida. Um deles, até namorada firme, já tinha.

E,  seu marido,o Pedro,  por onde andara ? Ele, não tem mais me procurado...Anda meio  esquisito, estranho... Será, que tem, arranjado alguma coisa por aí?
Não, acho que não!  Na última vez, ele também, não estava o bicho!  Há, mas faz tempo heim?  perguntou-se.  Nem lembrava o mês!

E , já o marido, estava por aí. No futebol, nos botecos bebendo umas  pingas  e jogando um baralhinho. E, de vez  em quando, acompanhava os amigos na pescaria. Precisava ,  distrair-se um pouco,coitado,  também,  trabalhava tanto!
E, Pedro, determinado dia, numa pescaria dessas, com alguns amigos ,  foi  até um bar .E,  lá,  comentam , sobre um bailinho local, um lugar famoso,  por reunir pessoas de todos os lugares e todas as idades.Um lugar, bem próximo ao mar. Decidiram conferir.

No baile,  havia muitas moças e poucos homens. Não deu outra. Pedro,  deu aquela mãozinha. Convidou uma prenda para dançar. E, tudo aconteceu, muito de repente. Tinha gingado a moça, sorriso farto, bom perfume . Há! A moça, não era tão nova, mas era faceira e parece  que gostava de viver. Era,  Lívia,   o tipo de mulher ,que, sempre esteve em sua mente. Foi,  uma grande noite, para ele e para ela também,  teve certeza.

 Naquela noite,  ele , entendeu definitivamente o que era o amor. Foi ,uma noite apenas, porque já era dia,  e , Pedro precisava voltar para casa. Seus cabelos já estavam brancos, mas ele,  já poderia  morrer em paz , pois,  tinha conhecido o amor.


Maria Eugênio Maciel

17-06-2015




quinta-feira, 4 de junho de 2015

A retomada,

Betina volta para casa, mas seu estado emocional, permanece adulterado. Parte dela,  continua no bosque. Sua lente, joga flashs  e  imagens, as vezes confusas e desordenadas. Mas a vida, chama- a de volta.

Betina, vai até o fogão. Pega alguns pedaços de lenha. Ajeita-os delicadamente. Joga um pouco de querosene sobre as palhas de milho. Risca um palito de fósforo. Depois outro. A chama inicia-se, com pouca força. Betina, conhece a arte do fogo. Cuidado e paciência.  Mais um palito. Querosene. Reorganiza e ajeita o espaço, na tentativa de manter e assegurar a chama. É preciso queimar. Arder.
O fogo está forte agora. O fogão é a própria lareira ,  esquenta a casa inteira.  Betina,  coloca água para ferver, precisa de um chimarrão. Está muito frio. E, o sol, começa a dar os primeiros sinais. Dá uma espiadela lá fora. Vê,  o movimento da vida.

Enquanto,  prepara o Chimarrão, pensa na sua lida. Tem alguns desafios pela frente. Está num momento novo. Precisa  mapear,  algumas , questões de ordem. Como o fogo, a travessia necessita de atenção e uso de todos os sentidos. Já a intuição, o pressentimento  e a atenção nos detalhes, é  importante   nos desdobramentos   contribuindo de forma efetiva  na expansão do olhar. A  humildade é também relevante no processo de  revisitação e aceitação, para a adequação aos novos ciclos, responsáveis pelo potencial da criação, recriação e se efetiva no vir à ser.

Betina, entende, que o processo, de reinvenção, passa pela ocupação de si.  A ocupação, reflete o ato de apropriar-se, tomar posse,  de algo, que, ainda  não lhe pertence. Por exemplo. Os corpos, de maneira geral, expressam, alguma  forma de estranheza. É uma sensação de desabitação,  desocupação, desintegração, vazio. Espaço , que precisa ser trabalhado  pelo próprio homem, para não desviar o foco de si  , e , buscar prazeres, compensações  em outros lugares.

O homem, em decorrência do meio social e econômico, ou seja, do tipo de vida que escolheu,  resultante da modernidade, muitas vezes comporta-se de forma dual, dicotômica, conflituosa.  Ou seja, pensa de um jeito e responde de outro, diferentemente daquilo que pensou. As vezes, com mais, outras vezes com menos clareza. Em grande parte,  essas ações, são mecânicas e impensadas.  A origem, tem por base atender princípios e normas, que primam,  não,   pela formação consciente do ser humano, mas, atendendo interesses do modelo econômico de produção vigente, no caso, com ótica no consumo.

Já a ocupação do corpo por inteiro,  implicaria na convergência , entre,  o pensar e o agir, tendo como princípio, a realização , não  apenas,  no ter, mas  no ser, na descoberta, uma forma de iluminação interior, da qual poderíamos chamar de consciência. Comportamentos, ações,  que,  ao invés de compartimentalizar, fragmentar, são ações que  solidificam, sintetizam,   fortalecem ,  empoderam, e expressam   esse mesmo homem. Nesse caso,teríamos um homem mais feliz, completava. A sociedade do Capital, através dos meios de comunicação de massa, Tvs, rádios, jornais etc., tem realizado um papel de supervalorização do consumo. “O famoso, vale quanto pesa”.  Impera-se, o mundo das aparências, dos rótulos,das marcas e do faz de conta. E,  a ordem é consumir, causar, impressionar. O homem, passa a viver, para ter, em detrimento do ser. E, não,  muito raramente, perde-se de si.

A Incursão de Betina, terá como alvo, níveis mais ampliados de   humanidade, de universalidade e de existência humana . E, o percurso, vislumbra  a demarcação de   fronteiras, a  ocupação de  territórios e  a expansão de terrenos já existentes. A preferência é  aquisição de  área fértil, em que  se plantando, tudo da. Mas, o desafio é plantar e colher o que for necessário, com determinação,  fé e precisão .  Os indicadores são ” terrenos e mudas, o tempo e  as estações”.No entanto, Betina confia  no poder da lua cheia. Entende  que a lua tem lá seus poderes e  seus mistérios, na  criação. A viagem , será  pautada por novos encontros, novas trilhas e até quem sabe, caminhos novos. Seu desejo maior, será, nada mais,  nada menos, como Apropriar-se de si e de quebra, encontrar sua turma, sua  tribo, sua matilha.
E, para ressaltar, Pinkola Estés enfatiza: (Pág. 237)


“Os lobos nunca são mais engraçados do que quando perderam a pista e fazem tudo para recuperá-la. Eles saltam  no ar, correm em círculos e escavam o chão com o focinho, arranham o chão, correm adiante, voltam e ficam parados como estátuas. A impressão é de que enlouqueceram . Mas o que eles estão realmente fazendo é recolhendo todos  os indícios que podem encontrar. Estão captando esses indícios com mordidas no ar.   Estão enchendo os pulsões com os cheiros do nível do chão e do nível das espáduas. Eles provam o ar para ver quem passou por ali recentemente, com as orelhas girando como antenas parabólicas, captando transmissões de muito longe. Uma vez que eles tenham esses indícios em ordem, eles sabem como prosseguir.”

Revirar a vida por dentro, seria o caso de Betina?

A vida,   exige pulsão e transbordamento. Viver já não basta. É preciso Pulsar. E,  o intento, seria,  por uma vida mais natural,  mais originária, primitiva ou selvagem.  Aquela que brota,  que principia, como água  ,que,  jorra da fonte, cachoeira ou cascata.
A questão – É, ir ao meu encontro. Pensava. E o Bosque, serviria de referência. De espelho?
A natureza, tem lá,  sua inteligência ,  concluí ela.  É,  a mesma, portadora de uma dinâmica, um fio ,que impulsiona e direciona a travessia,  norteada  pelo processo  de auto-conhecimento,  responsável pela consciência.  É , um movimento de vida e morte,  ordem e desordem.  A natureza,   se faz, e , se refaz no caos. É  assim, também,  na  existência humana. Então, já não basta respirar , é necessário estar vivo. É preciso,  ter olhos para enxergar, ouvidos para ouvir e pés para pisar.
Uma existência exitosa, é calcada em ações harmônicas, integradoras,   forjadas nas necessidades  e acões do inconscientes, num plano elementar,  e,  num plano mais dinâmico,   transformado em  consciência.  E, a  existência para ter significância, realização e plenitude, precisa ser cultivada,  tal  como,  a natureza e o mundo das plantas..  É necessário o cumprimento de todos os estágios.  Mas é imprescindível o cuidar e o  regar.

 E o fogo?

O fogo, prescinde chama acesa. Uma chama duradoura, permanente, que implica em segredos, fase, ciclos. O tempo, sempre foi seu  grande  aliado. E,  grande senhor. Agora,  mais do que nunca,  precisará de serenidade , porque,  terá um grande desafio pela frente. Precisará abrir o seu porão e deixar o ar e a luz entrar. Betina,  necessita estar acordada, para não perder nem um detalhe de vista. Sabe que precisará , flexibilização e amorosidade na revisitação do processo, e , na  realização  dessa    costura interna. Cada etapa,  será compreendida, abraçada e perdoada. Sabe que é humana e  que a história dos homens é escrita ,  por ações afirmativas, como a sua, com direito a acertos e erros. Sempre soube disso. Mas , admite a vida,  como, sendo  uma  grande aventura.


Ah, e o    viço ?

Depois dessa experiência, talvez tenha propriedade para falar sobre ele...

  Autoria: Maria Eugênio Maciel
02-06-2015






.




sábado, 2 de maio de 2015

Mulher Primitiva


Morrer, é,também, perde-se de vista,
enveredar por  labirintos, descaminhos,
abrir fendas ,  lacunas,feridas,
morrer,  é , distanciamento,
estrangulamento, desordenamento,
caos de vida, 


O Viver, não prescinde receita,  script,
morre-se,  e , vive-se todos os dias, todas as horas,
morre-se, quando abortamos um   sonho intacto e com perfeita raiz,
uma vida abreviada, negada, uma vida sobrevida,

Morre-se de todas as formas,
e sob vários tons e matizes,
por   falta de ar, de arte  e de poesia,
entendendo,  viver como arte.  A arte  de viver,  com fé na vida,


Na  arte de viver , todo dia,  é dia de desenrolo,  na dança do vir à ser.
E,  de súbito,  no infinito, Surge no um clarão, um flash,
um rabisco,
um chafariz,
um meteoro,
um caminho,
um destino,
um sonho,
uma promessa,


Entretanto,  nesse momento, não é noite,
nem é dia,
é intervalo,


A  vida, que se permite sonhar,
joga seu laço implacável e  forja o poder de  reinventar,  de refazer, de  restaurar,
de restabelecer, de curar,
uma vida,  que enseja viver,


Revisitarei o velho país,
pisarei  aquele chão,
sentirei cheiro de verde, de mate, de chimarrão,
matarei toda a saudade,
suprimida pelo tempo e andanças,
amor deixado, mas pra sempre amado, meu sertão...veredas,


Adentrarei no bosque,
perseguirei aquela ponta, aquele  fio, perdido, desencontrado,
um umbigo, uma matriz,  uma chave, um motor,
que,   lateja e pulsa,
que vira,  e ,  faz circular a vida,


Apossar-me-ei,   do Fio de  Natureza,  fincado   na mata, que vive entre plantas e   bichos selvagens e que se alimenta  de seiva virgem , de néctar   fresquinho. Uma espécie de Maná ou Sal da Terra.  Com todo cuidado, desenterrá-lo-ei,acariciá-lo-ei , com ternura e devoção,


Com ele, trarei de volta a mulher primitiva,  aquela que buscou-me, picou-me,
arrastou-me pegou pelos cabelos e permitiu florescer e , que,   assustada, acossada, tomou distância...
E,  desde então, meu destino é persegui-la, dia e noite.  No entanto, já  pressinto no ar, cheiro de reencontro,




Maria Eugênio Maciel


Dia 02-05-2015



segunda-feira, 20 de abril de 2015

Acendendo o Fogo,

Betina acordou. Já é dia pensou. Preciso levantar. ..

Betina gostava de acordar cedo. Costuma pensar que o amanhecer é carregado de magia, um espetáculo imperdível.

O cantar dos galos. O agito dos bichos reclamando por comida...

E  as árvores, naquele arvoredo, tinham identidade e   linguagem própria. Pareciam compreender o doce mistério da vida.  E para completar o cenário, naquele dia, assoviam e dançavam...

Betina era menina moça. Desde muito cedo,  compreendeu que sua relação com essa vida, teria um tom diferente das demais meninas de sua época. Sabia também, que não trilharia um lugar dito comum.  Sacava , que precisaria  construir sua trilha,diferentemente de sua tribo,  mediante um percurso longo e solitário. Entendia que o amanhã estaria  fincado no hoje.  E, a verdade, que lhe parecia  razoável, deveria ser carregada de sentido e de realização. Seu espírito curioso, investigativo, atento, sugeria a vida como um movimento do vir a ser. Uma espécie de desembrulho.

 Adotava como lema: Perambular, tatear, vasculhar e escavar. Muitas vezes, atuava como quem procura agulha num palheiro. Procurava, o que não tinha perdido, com devoção. Betina escolheu como ferramentas, Serrote, Martelo e Pregos, porque seu ofício era abrir e fechar fendas, buracos. Sabia,  que precisava de perfeição, mestria.  Que  o trabalho era árduo e duradouro, mas no final, teria sua recompensa...

E, qual a procura de Betina?

 Ainda jovem, entendia  que a vida, para valer a pena, precisaria  ser conquistada, palmo à palmo. Tarefa não muito fácil ,para uma menina magricela e franzina.

 Por viver no campo. Entendia de lua,  de chuva, de ventos e trovoadas. Apesar de algum medo, tinha relação estreita com escuridões e tempestades.   Adotara uma visão mais naturalística sobre o tempo. Um olhar um tanto apurado sobre o uso da terra, do plantio e da colheita. Entendia que o cultivo teria lá os seus  segredos. Laborar...  E,  que o uso da paciência, nesse quesito, poderia  atuar como grande aliado. Aliás, como em tantas coisas nessa vida.  Concluía,   então, que a vida prescinde de morte. Seria ,  o caso da semente,  que , morre,  para depois germinar . Pensava ela... E, esse movimento  natural da planta, teria alguma relação com a natureza de vida humana? E,  em que medida precisaríamos morrer, para viver de forma mais plena, mais significativa e transformadora? E, o que precisaria de fato morrer?

Betina,  apresentava,   dificuldade de se enquadrar, de cumprir regras, e , principalmente as que se tratassem  da obediência. Viveria em suas entranhas, grande conflito,  quanto ao significado e aplicação  desse termo. O que, lhe rendendera, muitas dores de cabeça.   Era criativa, tinha percepção aguçada, espírito brincalhão, mas,  seu ideário, era manter de pé, essa   alegria. Pra sempre! Sentia prazer em caminhar por caminhos não trilhados.Um frio na barriga... E,  alguns, poderiam entender,  como transgressão, e seria,  mas, para   Betina,   era,   tocar o sagrado...

Gostava de tudo,  que  cheirasse  agreste e  que, possibilitasse expressar, sua natureza mais primitiva ou natural.  Era do campo, mas gostava de ler. Principalmente coisas que refletisse o mundo interior, ligada aos " sete mares" ou a natureza profunda do self  ( inconciente/consciente). Provavelmente, intuía, que a alegria, era resultante de uma força interior maior, uma espécie de  chama  acesa,  força  integradora, resultante de algumas conquistas internas, que eu chamaria liberdade, autonomia.

Certo dia, Betina tomou coragem e  adentrou floresta dentro, sozinha. Apesar, de alguns sobressaltos movidos pelo medo, estava determinada a entrar e viver aquele barato. Enquanto caminhava, enxergava encantada, diversos tipos de flores, árvores, matas, plantas de diversos tamanhos e formas. Um coloridos, de doer os olhos. Uma diversidade de bichos, insetos e aves etc. e tudo compunha,  aquela paisagem .  Um  momento indescritível de  pura adrenalina e emoção. Os sapos e grilos, comandariam a orquestra, sob, os diversos sons ritmados  e em perfeita harmonia. E, tudo movia, tudo dançava. Betina também dançava! Um contexto   extraordinário e  arrebatador. No entanto, depois dessa incursão, o bosque, ficou colado em sua retina.  Teria sido  maldição, pela transgressão? Ou, o passeio teria sido apenas uma  iniciação?  Enquanto isso, Betina,  pacientemente, reorganizava suas ferramentas, porque, sabia que teria muito chão  pela frente. Há! E certamente, precisaria muitos pregos...


Maria Eugênio Maciel

20-04-2015